Obra do artista Luigi Ontani virou motivo de polêmica após crítica feita pelo senador Simone Pillon, que chamou a escultura de “um horrível satanás”
Era para ser apenas um elogio em bronze e mármore ao rio Reno, mas uma fonte esculpida pelo artista Luigi Ontani e inaugurada em abril passado na pequena cidade de Vergato, norte da Itália, virou alvo de polêmicas e até acusações de “satanismo”.
A estátua central da fonte representa o rio Reno (o da Emília-Romana, não o da Alemanha) com as feições de um fauno, divindade campestre da mitologia romana. A escultura de bronze carrega nos ombros um querubim que simboliza o Vergatello, um dos principais afluentes do Reno.
Na parte de baixo, em mármore, um Tritão representa os Apeninos, cadeia montanhosa que corta a Itália de norte a Sul. A água emerge das bocas das duas estátuas centrais e das partes íntimas do fauno, uma composição típica de Ontani, premiado artista que equilibra imagens sacras, o kitsch, a ironia e a provocação.
No entanto, um post no Facebook do senador Simone Pillon, do partido ultranacionalista Liga, desencadeou uma polêmica de proporções bíblicas em torno da fonte, cuja inauguração passara despercebida um mês atrás.
No texto, Pillon definiu a escultura como “um horrível satanás “. A partir disso, movimentos religiosos e de extrema direita passaram a protestar contra a obra, que amanheceu vandalizada com estrume nesta quinta-feira (9).
Os autores do ataque, ainda não identificados, também deixaram no local panfletos com o título: “Contra sua arte degenerada e sua alma danada”. A mensagem, escrita em tons apocalípticos, contém citações bíblicas e atribui o vandalismo a “soldados de Cristo”.
Além disso, um autoproclamado exorcista chegou à cidade de Vergato, que tem apenas 7,6 mil habitantes, para realizar orações em frente à fonte. Davide Fabbri, contudo, também é um conhecido militante de extrema direita e já foi condenado a seis meses de cadeia por apologia ao fascismo.
Ele se apresentou com a Bíblia em mãos e começou a ler alguns versos contra “presenças satânicas”. Enquanto Fabbri “exorcizava” a estátua, cerca de 200 cidadãos protestavam e o chamavam de “maluco”.
“Não tinha a intenção de provocar nem escandalizar ninguém, nem de transgredir. Trata-se apenas de mitologia representada em uma dimensão de fantasia”, justificou Ontani. A obra conta com apoio do prefeito Massimo Gnudi e foi financiada em parte pela sociedade civil local.
“Respondemos a essas pessoas que elas não ofenderam apenas um artista; ofenderam toda uma comunidade. Vergato não se deixará intimidar”, disse Gnudi.