quinta-feira, 21/11/2024
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Fiz vários abortos sem pedir ajuda aos pais: me via como a única responsável

"Eu tenho cinco histórias de aborto por gravidez indesejada. Demorei muito a ter consciência da importância da saúde sexual e reprodutiva. Demorei muito a perceber que a responsabilidade (e/ou a culpa) é dos dois envolvidos. A gente sofre pra cacete e ainda é condenada. A mulher arca praticamente sozinha com esse fardo pesado.

Na primeira, no fim da década de 1970, eu tinha 20 anos, e, ingenuamente, evitava com tabelinha. Eu e meu namorado fomos de Campinas para o Rio de Janeiro, onde alguém indicou uma clínica, em Botafogo. Ele pagou e foi tudo normal.

Viajamos de ônibus de madrugada, chegamos cedo, fizeram o procedimento por aspiração (uns dois meses de gravidez), saímos, fomos almoçar e passear.

Foi a única ocasião em que dividi o problema com o parceiro.

Na segunda vez, engravidei de bobeira, numa reconciliação pós-briga com esse mesmo namorado. Fiquei tão puta da vida com a mancada (que à época atribuí só a mim) que simplesmente cortei a relação e fui atrás de amigas para fazer uma vaquinha para o aborto. Fui a um lugar barato e horrível em São Paulo.

Era noite e parecia uma sala de necrotério, onde eu fiquei esperando o médico por um tempo, deitada, aguardando. Me levantei e saí correndo, chorando. Pegamos o dinheiro de volta e fomos embora. Fui, então, a uma clínica em Pinheiros, famosa na época, e fiz.

Continuei sem um método contraceptivo mais assertivo. Não tinha parceiros fixos e namorava bastante. Não gostava de preservativos — ainda não tinham estourado casos de Aids e eu não conhecia o risco de outras doenças sexualmente transmissíveis. Fiquei à mercê da sorte.

Dois anos depois, me engracei com um rapaz muito bonito, talentoso, um gênio da matemática, e… casado. Dormi um dia com ele e amanheci grávida. Erro de cálculo? Que burrice a minha! Minha? Nem contei pra ele. Terceira experiência, dessa vez numa clínica na Vila Mariana.

Parti pro DIU, fiquei sete anos. Assim que tirei pra renovar o dispositivo, fiquei grávida de novo. Fiquei inconformada, que estupidez a minha! Opa, "minha", de novo? Abortei, isso era meados dos anos 1980.

Recoloquei um DIU e, vencido o prazo, fui retirar e aguardar uns dias. E…nova gravidez nesse ínterim. Cacete!

Decidi resolver em casa mesmo, num fim de semana, sozinha. Usei um remédio e abortei, com uns 2 meses. Vi no vaso sanitário e fiquei abalada. Por garantia, fui imediatamente para a emergência de um hospital particular e contei o que tinha feito, como etc.

Levei a dura de que era crime. Fizeram curetagem; fiquei dois dias internada. Deu tudo certo. Fiquei bem… quer dizer…Vai um pouco de culpa, aí?

Estava na mesma relação estável fazia uns 6 anos. Coloquei outro DIU. Em 1997, decidimos ter um filho, após 13 anos de união. Engravidei novamente e temos uma filha já adulta.

Não busquei ajuda dos 'pais' dos filhos que eu carregava porque eu me via como a única responsável.

Lidei com os abortos com muita tranquilidade, porque sabia que eles eram necessários. A tal consciência da importância da saúde sexual e reprodutiva só veio fazer parte do meu repertório em meados dos anos 2000.

Por isso é preciso que os homens levem esta discussão a sério, tanto quanto as mulheres. Tanto do aborto quanto da prevenção, e da proteção durante o sexo. Essa não pode ser uma bandeira só feminina ou feminista. É uma questão de humanidade.

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Também tem um desabafo para fazer ou uma história para contar? Então senta que o divã é seu! Envie seu relato para liane.thedim@azmina.com.br-

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Parmenas Alt
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A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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