Lidando diariamente com a população, principalmente em situações delicadas de descumprimento de regras do ordenamento social, os agentes de regulação e fiscalização da Secretaria Municipal de Ordem Pública nunca tiveram uma rotina fácil, mas, agindo na defesa da saúde e da vida, durante esta pandemia de Covid-19, o trabalho ganhou outra proporção. “Sempre foi difícil porque ninguém gosta de ser fiscalizado. Mas agora, como se trata da vida, tem sido o momento mais difícil”, afirma Kelly Barros, fiscal do Município há 15 anos.
Desde o início da pandemia, ela e outros colegas de profissão passaram a trabalhar dobrado para garantir que a Operação Integrada de Prevenção à Covid-19 seja colocada em prática, ainda mais com o toque de recolher, quando a Secretaria de Ordem Pública passou a colocar equipes nas ruas da Capital em quatro turnos diários. Algumas semanas depois de trabalhar em dois turnos, Kelly passou a sentir sintomas gripais e chegou a ficar afastada das atividades laborais, fez o exame para Covid-19, que felizmente deu negativo. Ela acredita que os sintomas físicos sejam reflexo do cansaço e do desgaste mental. O marido dela, que é policial militar, passou pela mesma situação.
A agente afirma que, nas fiscalizações, é comum encontrar pessoas aglomeradas, sem máscaras de proteção, o que coloca os fiscais na lista de profissionais que estão na linha de frente do combate ao coronavírus e os expõem ao risco para proteger a vida das pessoas.
A resistência das pessoas quando são abordadas pelos fiscais ainda é grande, relata Kelly Barros. “Agora tem que entregar na mão de Deus porque antes já não respeitavam as regras de distanciamento social, agora vai piorar”, comenta a respeito do Decreto estadual que libera as atividades econômicas não essenciais, a qual a Capital está submetida por decisão judicial.
Além do desrespeito às orientações devidas à pandemia, Kelly relata que ela e os colegas constantemente sofrem insultos e se deparam com pessoas que tentam dar a famosa “carteirada”, mas os fiscais não se intimidam. “Isso sempre ocorreu, desde antes da quarentena. A gente está preparado. A gente pensa primeiro na saúde da população, então, a gente conversa, orienta, sempre com cordialidade”, afirma.
Sobre as situações de pessoas que descumpriam as restrições às atividades não essenciais, que não podiam funcionar, mas alegavam a necessidade de trabalhar para sobreviver, Kelly destaca que entende, mas, enquanto servidora pública, precisa ser firme. “A gente tem que trabalhar em cima da legalidade. O objetivo principal é garantir a vida. As pessoas argumentam que precisam trabalhar, mas a gente até orienta elas a buscarem os auxílios do governo federal, do Renda Solidária, que a Prefeitura criou para ajudar os autônomos”, frisa.
Toda a preocupação que têm com a população ao exercer seu trabalho, se multiplica quando Kelly Barros chega em casa. Ela e o marido, que trabalham em serviços essenciais e não têm como fazer isolamento social, aumentaram os cuidados ao chegar em casa para preservar a saúde dos filhos. O temor de serem infectados pelo coronavírus e transmitirem para os filhos é grande e eles adotam todos os protocolos de higiene em casa, como tirar a roupa e colocar para lavar antes de entrar, reforçar a limpeza da casa, entre outros.
Kelly Barros perdeu um tio para a Covid-19, tem uma tia internada e, nesta segunda-feira (27), perdeu o colega fiscal, Benedito Edmar Rodrigues, também vítima da Covid-19. “É muito triste ver a doença chegando cada vez mais perto. É muito sofrido não poder nem se despedir”, lamenta.
Questionada sobre que mensagem deixa para quem ainda insiste em ignorar a gravidade desta pandemia e a importância de adotar as medidas de biossegurança, Kelly Barros apela: “Tenham consciência e amor ao próximo porque quem ama, cuida”.