O Brasil nunca emprestou tanto à população para a compra da casa própria. No entanto, nem mesmo com os recordes seguidos na oferta de financiamentos habitacionais, o país saiu da lanterna do crédito destinado no mundo.
Com 3,3% do PIB (Produto Interno Bruto) destinado aos empréstimos, o Brasil está atrás dos parceiros emergentes, Índia (5%) e China (12%), e no último lugar na fila, quando comparado aos países mais ricos, que chegam a destinar quase o mesmo valor de toda a riqueza do país ao crédito imobiliário, segundo dados da Abecip (Associação Brasileira de Crédito Imobiliário).
O motivo desse atraso tem a ver em parte com a desigualdade de renda no país, mas também com a falta de grana destinada à construção de moradias. Segundo dados do BC (Banco Central), o dinheiro destinado ao financiamento habitacional atingiu R$ 111,6 bilhões em junho, sendo 90% com recursos públicos – oriundos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e da poupança.
Toda essa grana, vinda somente de duas fontes, financia a construção de 1,5 milhão de imóveis no ano. O número atende a procura atual das famílias, mas como o país sofre com atraso no setor, o valor praticamente não mexe no déficit habitacional (falta de moradias), estimado em 7 milhões, formado não somente pelos sem-teto, mas pela população que vive de aluguel ou mora em cortiços, segundo João Crestana, presidente do Secovi-SP (sindicato da habitação).
Essa população, segundo o especialista, não é atendida pelo programa do Minha Casa, Minha Vida, destinado à compra da casa pelas famílias com renda de até três salários mínimos (R$ 1.530).
– Diria que se nós fizermos além daquelas 1,5 milhão, mais 500 mil por ano, em 15 anos, encerraremos o déficit. Aqueles 32 milhões de pessoas que entraram na classe C e vão demandar uma melhora de habitação, não serão financiados pelo Minha Casa. A fonte, aqui, é a caderneta de poupança […]. O problema é que ela só será insuficiente.
Se para construir mais é necessário financiamento, as duas únicas fontes disponíveis no mercado podem se esgotar diante do próprio crescimento do país nos próximos anos. Com o aumento do emprego formal, mais renda no bolso e melhora da classe média, a demanda por imóveis somente pela classe C chegará a 1,4 milhão por ano até 2016, o que pode ocasionar em falta de dinheiro para financiar, segundo Luiz Antônio França, presidente da Abecip.
Novas fontes de financiamento
Para evitar um “apagão imobiliário” o mercado já começa a pensar em novas fontes, que vão desde a securitização, quando o banco “troca” a dívida de longo prazo pelo dinheiro na hora, e os fundos de pensão, que são como contas coletivas usadas por grupos de trabalhadores para se aposentarem.
No mercado, há quem já invista nessas novas modalidades, de olho na aceleração do mercado imobiliário. Neste ano, a Broofield Incorporações, empresa que trabalha com foco na construção de imóveis para a classe C, já comemora a primeira operação de CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários), que é quando investidores (pessoas ou empresas) aplicam uma grana e recebem um título, para um imóvel comercial na planta.
A modalidade, que vem sendo usada há seis anos em imóveis residenciais em unidades já lançadas, deve ser ampliada a fim de custear as unidades ainda na planta, segundo Cristiano Machado, diretor financeiro da Broofield.
– O bom momento da economia ajuda na criação de novas modalidades de negócios […]. Esse vai ser o primeiro produto no mercado em um imóvel na planta e a gente já consegue pensar em fazer o mesmo para atender a demanda de imóveis residenciais.
No outro lado do balcão, a Previ, o maior fundo de pensão no Brasil, já investe na expansão dos shoppings centers, tendo aplicado R$ 3,96 bilhões em imóveis comerciais até junho deste ano. Apesar do posicionamento ainda tímido no mercado, há quem também sugira o uso do fundo para conseguir mais grana para emprestar.