Os países ocidentais criticaram a Rússia, neste domingo (25), na reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, após mais uma noite de bombardeios aéreos sobre Aleppo, lançados por forças do governo sírio e de seu aliado russo.
Grã-Bretanha, França e Estados Unidos convocaram o Conselho para aumentar a pressão sobre a Rússia e insistir em que busque conter o governo de Bashar al-Assad em sua campanha de bombardeios nos bairros rebeldes de Aleppo.
"Crimes de guerra estão sendo cometidos em Aleppo", disse o embaixador da França, François Delattre, à imprensa.
"Não devem ficar sem castigo. A impunidade simplesmente não é uma opção na Síria", acrescentou.
"Logo quando pensávamos que as coisas não podiam ficar pior na Síria, ficaram", concordou o embaixador britânico, Mattew Rycroft.
"As munições incendiárias lançadas em Aleppo são indiscriminadas e são uma clara violação das leis internacionais, assim como as bombas de barril que caem dos céus", afirmou o diplomata.
"Qual desculpa tem para fazer menos do que tomar fortes medidas para deter um crime deliberado? Quanto tempo mais aqueles que têm influência vão permitir que essa crueldade continue? Insto todas as partes envolvidas a trabalhar firmemente para pôr fim ao pesadelo", declarou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Bombardeios sem cessar
Os países ocidentais tentam frear a ofensiva lançada na sexta-feira (23) pelo governo sírio e por Moscou para reconquistar os bairros insurgentes de Aleppo.
A embaixadora americana Samantha Power indicou que houve mais de 150 bombardeios sobre a cidade nas últimas 72 horas e acusou Síria e Rússia de lançar uma "ofensiva total".
Em Aleppo, "o que a Rússia apoia e faz não é luta antiterrorista, é barbárie", disse Power.
Seu homólogo russo, Vitali Tchurkin, responsabilizou a coalizão internacional.
"Centenas de grupos foram armados, o país bombardeado sem critério", denunciou.
"Nessas condições, trazer a paz é, em consequência, uma tarefa quase impossível", completou.
A chuva de bombas já deixou pelo menos 124 mortos, 25 deles ao amanhecer deste domingo, segundo um novo balanço divulgado pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Entre eles, figuram 19 crianças e mulheres soterrados pelos escombros dos prédios destruídos.
"Os bombardeios não pararam durante a noite toda", contou Ahmad Hajjar, de 62, morador do bairro rebelde de Al Kallassé.
"Não preguei o olho até as quatro da manhã", completou.
Na véspera, Ban Ki-moon já havia se declarado "consternado" com a "assustadora escalada militar" em Aleppo e advertiu que o uso de armas avançadas constitui crime de guerra.
Massacre
Hajjar conta que sua rua está cheia de bombas de fragmentação que não explodiram. "Um vizinho foi morto por uma delas. Eu o vi tropeçar nela, ela explodiu e arrancou suas pernas e braços. Foi uma cena horrível", recorda.
"Não sei por que o regime nos bombardeia dessa maneira selvagem. Não temos para onde ir", observou Imad Habbouche, que mora no bairro de Bab Al-Nayrab.
As 250.000 pessoas que moram nos bairros rebeldes não recebem ajuda externa há quase dois meses e não têm acesso à água corrente desde sábado por causa dos bombardeios, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
A União Europeia denunciou "uma violação inaceitável da lei humanitária internacional".
Em um comunicado comum da UE, Estados Unidos e os chanceleres de França, Itália, Alemanha e Grã-Bretanha apontam claramente a Rússia como responsável pela retomada dos combates.