O anúncio de que a emissora estatal RAI transmitirá um documentário produzido pela BBC de Londres sobre padres pedófilos abriu grande polêmica na Itália. Um político conservador chegou a defender o veto ao filme por considerá-lo “um pelotão midiático de execução pronto a abrir fogo contra a Igreja e o papa”.
Devido aos protestos, Mario Landolfi, presidente da comissão parlamentar que supervisiona a RAI, pediu ao diretor-geral da emissora que não autorize a transmissão do documentário chamado ‘Crimes Sexuais e o Vaticano’. Vários políticos se voltaram imediatamente contra a proposta de censura feita por Landolfi e o jornalista Michele Santoro, conhecido militante de esquerda, que quer exibir o documentário como a principal atração de uma das edições do seu programa de entrevistas ‘Ano Zero’.
O filme foi exibido em outubro do ano passado na BBC britânica, mas permanece inédito na Itália, embora alguns blogueiros já o tenham traduzido e ele apareça como o mais popular no Google Vídeo Itália (www.video.google.it).
A publicação ‘Avvenire’, ligada à Igreja Católica italiana, já criticou o documentário e acusou os blogs que o difundem de perpetrarem uma “infame calúnia”.
Dois parlamentares de esquerda, Giovanni Russo Spena e Gennaro Migliore, disseram em nota conjunta que o filme deveria ser exibido porque “a pedofilia na Igreja Católica é bem conhecida, não há mistério a respeito”.
O documentário examina o que descreve como “documentos secretos do Vaticano”, estabelecendo procedimentos para lidar com abusos generalizados de um padre contra a instituição da confissão a fim de silenciar sua vítima.
O documento original, de 1962, foi atualizado em 2001 para lidar mais especificamente com a pedofilia, já que em todo o mundo a Igreja enfrenta escândalos sexuais.
Um diretor da RAI, o esquerdista Sandro Curzi, acusou alguns políticos de serem hipócritas, pois a BBC é sempre citada como padrão a ser imitado pela RAI. “O tópico é delicado, mas é importante que seja tratado com seriedade”, afirmou.
Ataque aos índios
As comunidades indígenas da América do Sul continuam esperando as desculpas do papa Bento XVI que, em discurso para bispos latino-americanos e do Caribe no encerramento de sua visita ao Brasil, afirmou que a Igreja não havia se imposto aos povos indígenas das Américas. Segundo o pontífice, os índios receberam bem os padres europeus, uma vez que “Cristo era o salvador que esperavam silenciosamente”.
Para Jecinaldo Satere Mawe, coordenador-chefe da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, é arrogante e desrespeitoso que a Igreja Católica considere a herança cultural dos nativos menos importante que a deles.
Acredita-se que milhões de índios tenham morrido no continente americano em conseqüência da colonização européia, depois da chegada de Cristóvão Colombo, em 1492.
Dionito José de Souza, líder da tribo Makuxi, de Roraima, afirmou que “o Estado usou a Igreja para fazer o trabalho sujo na colonização dos índios, mas eles já pediram perdão. (…) quer dizer que o papa está voltando atrás com a palavra da Igreja?”. Em 1992, o papa João Paulo II falou dos erros na evangelização dos povos nativos das Américas.
– As declarações do papa Bento XVI não desagradaram somente aos índios, mas também aos padres católicos que os apóiam em sua luta – disse Sandro Tuxa, líder do movimento das tribos do Nordeste.
FU