Calcinhas, pijamas, tapetes e artesanatos em geral sempre foram o ganha pão de Maria Ferreira, 45 anos, que mora no bairro Dom Aquino, em Cuiabá.
Sozinha, em fundo de quintal, fazia a luta do dia a dia pela sobrevivência.
Mas já andava sobrecarregada e preocupada, até que conheceu o programa Economia Solidária.
Junto a mais cinco mulheres, com histórias de vida tão diferentes mas ao mesmo tempo tão iguais à sua, apoiada pelo programa, criou
a micro-empresa “Damas”. O rendimento, segundo ela, ainda não é tão forte, ela ganha R$ 1,2 mil por mês. Mas é o suficiente, segundo ela, para ajudar o marido a manter a família, os dois filhos. Maria está entre os demais contemplados pelo programa, em todo o país, e é expositora na Feira de Economia Solidária, montada até hoje, sábado, no estacionamento do Ginásio
de Esportes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), das 13h ás 21
horas.
É possível encontrar lá artesanatos de todos os tipos, brincos, pulseiras, bolsas, sapatos, roupas, peças ornamentais, além de alimentos, perecíveis e não perecíveis. Tudo a preço justo. E o que se espera dos clientes é que
exerçam o consumo consciente.
“Preço justo e consumo consciente”. Este é o slogan da feira, que une mais
de 100 empreendimentos, como o de Maria.
Conversando com cada um dos expositores, é possível perceber que, apoiados,
ideologicamente, pedagogicamente, financeiramente, cada um deles pôde
fortalecer sua produção e sua vida.
A costureira Margarida Souza Pacheco, 49 anos, moradora do bairro Jardim Leblon, em Cuiabá, também trabalhava sozinha e vencia as aflições
financeiras sem qualquer apoio. “Toda vida fiz crochê, costura, doce, bolo,bolsa, para ajudar em casa”, conta ela. Dentro do programa Economia
Solidária, entrou para o “Grupo de Trabalho do CPA 4”, que produz roupas com tecido cru. Saias, blusas, vestidos, batas. Os únicos adornos são fitas e sianinhas. Fica lindo! O rústico aliado ao delicado. E as peças não passam
de R$ 30 a R$ 50. “Trabalhar em grupo é melhor”, avalia Margarida.
“Uma ajuda a outra, o que uma não sabe a outra sabe”. Segundo ela, além do
trabalho cotidiano, o grupo é amigo e uma fala para a outra as tristezas da vida, desabafa e segue em frente.
Se pechinchar, a artesã Graciene Santana, 33 anos, dá um desconto bom.
“Desde que não me falte com o respeito”, pontua ela, explicando que fazer uma peça de crochê por exemplo leva tempo. Ela e mais duas mulheres são do “Grupo Esperança”. Sabendo que tem que “ser camarada”, já que a vida da maioria da população brasileira é de luta, ela avisa que seus preços nem estimulam pechincha. São muito bons, segundo ela. Cerca de R$ 18, R$ 20, R$
35 no máximo.
Uma forma de empodeirar as pessoas, organizar o pequeno empresário, a artesã. Este é o resumo do educador popular, Mário Márcio Vieira, do
programa Economia Solidária e da feira que está acontecendo na UFMT.
“A gente percebe no olhar dessas pessoas a garra que faz a diferença”, observa.
Segundo ele, a feira é um espaço de comércio, formação e estudo. Para ele, o mais importante nesse programa é a possibilidade de colaborar para a transformação da relação de compra e venda. “Que esta relação seja mais
humana, mais solidária”, propõe.
E para que esta mudança ocorra, é preciso,
na visão dele, construir este processo histórico.
Presidiárias femininas da Penitenciária Ana Maria do Couto May, em Cuiabá,
não podem sair de dentro dos muros da prisão. Mas seus produtos, elaborados
em aulas de artes plásticas três vezes por semana, com a artesã Cleuza
Tardin, estão expostos na feira da Economia Solidária. Com o dinheiro que
ganham dessas peças, as presas vão se reconstruindo, pensando na liberdade
com dignidade.