quinta-feira, 07/11/2024
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Fazer Sexo por fazer é jogar com a morte

Cresce no Brasil uma prática suicida, na qual homens e mulheres se reúnem para manter relações sexuais com várias pessoas, entre elas portadores do vírus da aids

Imagine o absurdo, a irracionalidade da cena: uma festa fechada em que homens e mulheres mantêm relações sexuais, trocam de parceiros e ninguém usa qualquer tipo de proteção. E pior: todos sabem que entre eles há portadores do vírus HIV não identificados. A grande aventura é a sensação de “roleta russa”. Ninguém sabe quem sairá de lá “premiado”, ou melhor, marcado para o resto da vida por ficar contaminado pelo vírus da aids. Por mais chocantes que possam parecer, esses encontros têm se tornado comuns entre os praticantes do chamado barebacking, em português, “montar sem cela”, uma alusão à pratica sexual sem preservativo, movimento que tem crescido no Brasil. É o caso de V.A., que, mesmo após passar por uma situação de risco, continua tendo relações sexuais sem proteção. “Não tenho medo”, diz.

“O argumento mais forte é a maximização do prazer e o aumento do erotismo através do risco”, explica o psicólogo Luis Augusto Vasconcelos, que desenvolveu uma tese sobre o tema. Ele diz que entre os barebackers existem ainda os chamados “bug chasers” ou caçadores de vírus, que querem contrair o HIV como forma de participar de uma comunidade, ou até por um sentimento de “libertação”, e os “gift givers” ou doadores, portadores do vírus que “presenteiam” os primeiros.

Esses praticantes foram tema de um polêmico documentário norte-americano chamado “The Gift”, que conta a trajetória de um menino que quer contrair o vírus e participa de várias festas barebackers até que, após a infecção, se depara com diversas doenças, o preconceito e a solidão. “Manter relações sexuais sem o uso do preservativo, sabendo que há possibilidade de entrar em contato com o HIV, é uma prática suicida”, define Eduardo Barbosa, diretor-adjunto do programa de DST/Aids do Ministério da Saúde. Ele acredita que esse é um comportamento individual, mas diz que na sociedade houve um relaxamento no uso de preservativos depois que a aids parou de aparecer na mídia como uma doença que mata instantaneamente: “Nos anos 80, as pessoas morriam de forma rápida. Hoje, apesar de a gente ter 11 mil mortes por ano no País, ela não causa mais temor.”

A prática do barebacking não é considerada crime. Mas, segundo o artigo 131 do Código Penal o “perigo de contágio de moléstia grave”, como aids e sífilis, é. Segundo o jurista e advogado criminal José Carlos Tórtima, o portador do vírus HIV que mantém relações sexuais sem proteção, ainda que o parceiro saiba, pode ser condenado a até 4 anos de prisão. Ele diz que não há casos de processos conhecidos no Brasil e que é uma pena difícil de aplicar, mas não impossível.

No exterior, a história é diferente. No ano passado, a cantora alemã Nadja Beissa, do grupo No Angels ficou 10 dias presa por supostamente ter contaminado um namorado com o vírus da aids, após manter relações com ele sem contar que era soropositiva. Se for condenada, poderá pegar de 6 meses a 10 anos de prisão.

Eduardo Barbosa alerta para as dificuldades que um caçador de vírus enfrentará, caso atinja seu objetivo: “A infecção pelo HIV ainda é um grande problema de saúde pública no Brasil. São 33 mil novos casos por ano, e essas pessoas sofrem desde discriminação até efeitos colaterais do tratamento. Não é nada fácil viver com o HIV.”

“Não tenho nem um pingo de medo”

O publicitário V.A., de 24 anos, é praticante de barebacking há 8 anos e, portanto, dispensa preservativos. “Já passei por uma situação extremamente arriscada em um relacionamento. Depois de um tempo, fomos fazer o teste de HIV e o da pessoa deu positivo. Fiz outros testes depois de alguns meses e todos deram negativos. Tive muita sorte”, desabafou.

Apesar de reconhecer que “teve sorte”, V.A. afirmou que não tem medo de contrair o vírus e que, se acontecer um dia, não vai tomar remédio e não vai contar a ninguém. “Não tenho nem um pingo de medo. Mas se pegasse iria passar a usar preservativo ou parar de ter relações sexuais de uma vez.” O publicitário contou que já teve vários relacionamentos, todos sem proteção, inclusive em seu casamento atual. “Nunca fiz testes com essa pessoa. Confiamos um no outro”, arrisca. “Não me importa se um dia eu contrair o HIV.”

Andrea Dip/F.Uni

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Parmenas Alt
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