As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) ameaçaram na quarta-feira, 27, iniciar uma campanha de seqüestros e ataques ao Panamá caso o governo do país não liberte até o dia 1 de março seis combatentes do grupo capturados no fim de semana passado. Esta é a primeira vez na história recente que as Farc ameaçam atacar um país vizinho.
Um comandante guerrilheiro identificado como Bercerro disse que o governo panamenho “tem até 1 de março próximo, às 12h, para libertar os companheiros seqüestrados”. “Se isto não se cumprir, temos instruções de fazer reféns membros da polícia nacional, funcionários ou políticos locais, a fim de forçar um intercâmbio. Para isto, tenho autorização de utilizar a força, a equipe e as ações necessárias”, acrescentou. O governo do Panamá afirmou que não comentará o assunto neste momento.
As Farc libertaram na quarta mais quatro reféns que estavam há mais de seis anos em seu poder. Os ex-senadores Gloria Polanco, Luis Eládio Pérez e Jorge Eduardo Gechem e o ex-deputado Orlando Beltrán foram entregues a autoridades venezuelanas e representantes da Cruz Vermelha Internacional perto da localidade de El Retorno, na região do Guaviare, na Colômbia.
Os ex-congressistas soltos podem ser os últimos reféns que a guerrilha libertará de maneira unilateral, antes que as regras de um novo acordo humanitário sejam estabelecidas, indicou o grupo rebelde. Imediatamente após a entrega dos reféns, as Farc emitiram um comunicado reiterando a exigência de que o governo colombiano realize uma retirada militar em uma zona que abrange 750 km2 para que um acordo humanitário seja firmado. A retirada militar é o principal ponto de controvérsia entre o governo de Álvaro Uribe e a guerrilha.
Essa foi a segunda libertação unilateral de reféns da guerrilha neste ano. Em janeiro, foram soltas a ex-senadora Consuelo González e Clara Rojas, assessora da ex-candidata à Presidência da Colômbia Ingrid Betancourt.
Os Farc ainda mantêm em seu poder 40 reféns políticos, que a guerrilha se diz disposta a trocar por 500 rebeldes presos. Desses seqüestrados, 33 são militares e 7 são civis. “Chama a atenção o fato de a guerrilha só ter libertado civis”, disse ao Estado o cientista político Carlos Medina, da Universidade Nacional da Colômbia. “Provavelmente ela espera com essas libertações conseguir mais legitimidade e reconhecimento internacional – e se os seus reféns forem principalmente militares, ela terá mais argumentos para pleitear o status de combatente.”
Ingrid Betancourt
Luis Eládio Pérez disse ter visto Ingrid há 23 dias. Segundo ele, ela tem um problema no fígado e seu estado de saúde é crítico. “A guerrilha se irritou com Ingrid”, afirmou. “Ela tem problemas físicos e está sendo muito maltratada.” Com a libertação de Gloria, Ingrid passa a ser a única mulher do grupo de reféns políticos da guerrilha.
A filha de Ingrid Betancourt, Melanie Delloye, se mostrou nesta quinta-feira “extremamente angustiada” com o estado de sua mãe. “É extremamente inquietante, e sei que o tempo está realmente contado. Mamãe está viva, mas não sei por quanto tempo”, desabafou a jovem.
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, pediu ao líder das Farc, Manuel Marulanda, que ordene com urgência a transferência da ex-candidata enquanto sua libertação segue sendo negociada. Astrid Betancourt, irmã de Ingrid, disse que, segundo informações transmitidas pela senadora colombiana Piedad Córdoba na semana passada, a guerrilha estava transferindo a seqüestrada para os acampamentos onde se encontram os reféns americanos.
“Talvez tenha sido nessa ocasião que Luis Eladio Pérez a tenha visto”, disse Astrid. “Ele (Luis Eladio Pérez) pôde ver o estado de Ingrid, em um grupo de prisioneiros que lhe são extremamente hostis, e que se irritam com ela porque a culpam por estarem seqüestrados”, explicou Astrid Betancourt.
Ela afirmou que a guerrilha, por sua parte, “não é clemente” com Ingrid, por ter tentado fugir em diversas ocasiões, tendo sido alvo de represálias. Por sua vez, o ex-marido da refém, Fabrice Delloye, confirmou as declarações divulgadas pela ex-refém Gloria Polanco, de que Ingrid Betancourt sofre de hepatite B.