A taxa de desemprego no Brasil, em maio, foi de 7, 9%, a menor dos últimos 6 anos. Mas a suposta boa notícia ainda significa 1,8 milhões de brasileiros sem trabalho. Apesar disso, alguns setores não conseguem preencher as vagas em aberto e o principal motivo é a falta de qualificação e experiência de quem procura emprego.
Segundo pesquisa divulgada no final de 2007 pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), apenas 18,3% das pessoas que procuravam emprego naquele ano atendiam a essas exigências. Como conseqüência, 15 dos 25 segmentos do comércio, indústria e serviços diagnosticados apresentam carência de profissionais. Nas outras dez áreas, sobra gente qualificada e com experiência que não consegue se recolocar no mercado por falta de oportunidades. No Brasil, entre todos os setores, a indústria é o que mais sofre, com déficit de 117 mil trabalhadores qualificados. Já a área de serviços tem 55 mil trabalhadores desempregados.
Crescimento
Tanto o desemprego quanto a carência de profissionais qualificados estão associados ao desenvolvimento do País, que viveu durante 25 anos – desde a década de 80 – um período de baixo crescimento, chegando até à recessão em alguns momentos.
Com a economia desaquecida, profissionais de setores mais atingidos no passado, como a construção civil, migraram para outros que ofereciam melhores condições de carreira e pagavam maiores salários. Ricardo Amorim,
pesquisador do Ipea que fez parte da equipe que elaborou a pesquisa, explica que “se não há desenvolvimento não há emprego. Se o País não cresce, mesmo que todo mundo se qualifique, não adianta”. Nós últimos anos, no entanto, a taxa de crescimento tem apresentado índices em torno de 4% e os setores que passaram por crises anteriormente experimentam agora a falta de profissionais.
“Nos últimos 20 anos a construção civil se desmanchou. Não havia investimentos. Por isso, houve uma dispersão de mão-de-obra. Ninguém queria ser engenheiro. Agora estamos retomando com perspectivas positivas em médio prazo. Estamos qualificando porque sem gente não se constrói”, comenta João Batista, diretor do Sindicato da Construção Civil de Ribeirão Preto (SP). A entidade, em pareceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), oferece cursos de capacitação em nove funções, entre elas pedreiro e carpinteiro.
O setor tinha saldo positivo de cerca de 76 mil trabalhadores em 2007. Mas apenas neste ano, entre janeiro e maio, já foram gerados 160.395 empregos, alta de 10,48%, o que provocou o déficit. “Os setores se aqueceram muito rapidamente”, comenta Amorim.
Políticas Públicas
Nas regiões Norte, Sul e Centro-Oeste, por exemplo, há, na soma dos segmentos econômicos pesquisados, falta de pessoal qualificado. “São lugares que não têm base produtiva muito forte. Com o crescimento, que foi generalizado e rápido, ocorre isso. é um problema bom”, explica Amorim.
Alexandre Serpa, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), é mais crítico: “Uma política pública tem que ser pensada antecipadamente. Quando se alavanca um setor tem que se pensar em todas as medidas que cercam a questão”.Segundo Fernanda de Negri, chefe da assessoria econômica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o problema não chega a afetar a nova política industrial do Governo Federal, lançada em maio. Apesar de ser, segundo ela, uma questão a ser
atacada, não existe um consenso sobre a possibilidade da falta de profissionais qualificados atravancar o crescimento do País.
Já para o Secretário da Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Eliezer Pacheco, o momento é de apagão de mão-de-obra
qualificada. “As empresas maiores chegam a trazer trabalhadores de outros países, o que é um absurdo porque temos muitos desempregados”, critica o secretário.
Além dos cortes de impostos incentivados pelo MDIC para as empresas que investirem em qualificação profissional, principalmente na área de tecnologia, a expansão da rede federal de educação técnica e superior é vista pelo Governo como uma das soluções. Em 2005, apenas 17,2% dos municípios concentravam toda a rede de ensino técnico. “É ótimo a empresa qualificar, mas nós temos um problema mais sério a resolver”, afirma Pacheco.
Disparidades regionais
Tomando o Brasil como um todo, o saldo de trabalhadores qualificados que não têm emprego é de 84 mil, segundo a pesquisa do Ipea. Mas há déficit em diversos segmentos, como o da indústria química e petroquímica, que sente falta de pelo menos 25 mil trabalhadores com qualificação.
Quando se olha para as regiões separadamente, é possível notar muitas diferenças. No Sudeste a mão-de-obra para serviços – educação, saúde, lazer, etc – estava com falta de aproximadamente 23 mil pessoas. Já no Nordeste, este é o setor que mais tem desempregados: por volta de 54 mil. No Sul, Centro-Oeste e Norte há falta de mão-de-obra se somados todos os setores, mas os segmentos que apresentam déficit de vagas ou desempregados variam de lugar para lugar. A região Sul tem quase 8 mil profissionais da indústria têxtil e de calçados desempregados. Já no Centro-Oeste o mesmo setor vê falta de vagas para 4,5 mil trabalhadores.
Gisele Brito/F.Uni