O Exército da Guiné-Bissau confirmou em comunicado nesta segunda-feira a morte do presidente, João Bernardo Vieira, mas negou que planeja um golpe de Estado. No texto, divulgado após reunião de emergência, os militares afirmam que respeitarão a ordem constitucional e a democracia no país.
O presidente Vieira foi assassinado por soldados nesta segunda-feira em sua residência, na capital Bissau. Segundo o Exército, os soldados, ainda não-identificados, fazem parte de um grupo isolado. Os militares afirmam ainda que já investigam o atentado.
A morte de presidente ocorreu horas depois do chefe do Exército, Tagmé Na Wai, ser morto em atentado a bomba. As duas mortes acirraram o temor por mais um golpe de Estado na Guiné-Bissau, que vive décadas de grande instabilidade política desde sua independência de Portugal, em 1974.
Em comunicado, os oficiais superiores do Estado-Maior das Forças Armadas afirmaram que “o Exército, fiel a seu dever, respeitará a ordem constitucional e a democracia” –na qual o chefe do Parlamento deve suceder o presidente.
“O Estado-Maior das Forças Armadas anuncia que o chefe do Estado-Maior, o general Tagmé, foi vítima de um atentado que o matou. O Exército anuncia, por outra parte, a morte do presidente Nino Vieira”, completa o texto.
Os militares afirmam ainda que a situação está “sob controle” e pediram à população que “mantenha a calma”.
Segundo uma testemunha citada pela agência de notícias France Presse, a residência privada do presidente foi saqueada. “Vimos militares retirando tudo o que havia dentro da residência privada do presidente, seus bens pessoais, seus móveis, tudo”, afirmou.
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Embora o Exército negue relação com a morte de Vieira, ex-comandante militar, o chefe militar de Relações Exteriores, Zamura Induta, acusou a organização de liderar o assassinato como vingança pela morte de Na Wai.
“O Exército matou o presidente Vieira quando ele tentava fugir da casa dele, atacada por um grupo de militares ligados ao comandante do Estado-Maior, Tagmé Na Wai”, afirmou Induta.
O chefe militar acusou ainda Vieira de ser o mandante do assassinato de Na Wai, com quem já tinha brigado em outras ocasiões. Vieira fazia parte de uma minoria étnica do país, Pepel, e teve grandes discussões ao longo da vida política com políticos da etnia Balante, uma das maiores do país, da qual fazia parte Na Wai.
“Era um dos principais responsáveis pela morte de Tagmé”, acrescentou Induta. “Agora, o país vai avançar. Este homem bloqueava tudo neste pequeno país”, completou.
João Bernardo Vieira, 69, conhecido como Nino, passou praticamente 23 anos à frente do governo da Guiné-Bissau. Ele foi o autor do primeiro golpe de Estado no país, em 1980. Com a abertura política, ganhou eleições em 1994 e 1998, mas foi derrubado em maio de 1999 pela oposição, após uma guerra civil violenta que durou 11 meses. Vieira voltou à política em 2005, quando ganhou a eleição presidencial.
Em 23 de novembro do ano passado, um grupo militar atacou a residência de Vieira, em uma ação que matou dois de seus seguranças.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o general Tagmé Na Wai, morreu neste domingo (1º) em um atentado com bomba contra o quartel-general do Exército.
“O general estava em seu escritório quando a bomba explodiu. Ele foi gravemente ferido, e não sobreviveu. É uma grande perda para todos nós”, declarou seu chefe de gabinete, o tenente-coronel Bwam Nhamtchio.
O atentado também deixou cinco feridos, dois dos quais estão em estado grave, acrescentou Nhamtchio. O general Wai afirmara no início de janeiro ter sido alvo de uma tentativa de assassinato.
Este atentado se inscreve num contexto de crescimento da violência na Guiné-Bissau, abalada por profundas divergências entre o Exército, a Presidência e o Ministério da Administração Interna.
F.on.Line