A fila de espera na saúde pública finalmente começou a andar, o presidente da CPI da Saúde, deputado Sergio Ricardo (PR), acompanhou o primeiro paciente a fazer um exame de cateterismo pelo SUS via Programa Fila Zero. Com 72 anos, Modesto Rodriguez Souza, morador do bairro Cidade Alta, há um ano vem se sentindo mal, sofreu dois infartos e depois de várias passagens por policlínicas e postos de saúde, conseguiu no final do ano um primeiro diagnóstico de que seu coração estava inchado e precisava passar por um cateterismo.
“Depois de cinco meses de muita preocupação com a saúde do meu pai recebemos uma ligação da Central de Regulação nos avisando que ele poderia fazer o exame segunda-feira. Estamos com muita esperança de que o caso dele seja resolvido”, disse Maria Alves, uma das três filhas do senhor Modesto. “ A CPI da Saúde vai acompanhar os pacientes durante todo o tempo que for preciso para acabar com as filas, não só de cateterismo mas a de consultas, exames de média e alta complexidade e cirurgias. Não vamos permitir que nenhum cidadão mato-grossense seja vítima da má gestão da saúde pública”, disse Sergio Ricardo.
Além de Modesto, outras 125 pessoas farão o exame de cateterismo até o dia 23 de maio, em duas clínicas da Cinecor, nos hospitais São Matheus e Santa Rosa, em Cuiabá.
Segundo explicou a cardiologista Ivone Nascente Gomes ao presidente da CPI, cinco instituições públicas e particulares em Cuiabá fazem esse tipo de procedimento pré-cirurgico, sendo que somente nesta clinica existe a capacidade tecnológica de fazer até 15 cateterismos por dia, pelo menos cinco deles para atender o SUS. “ Hoje usamos apenas 60% da nossa capacidade. É frustrante saber que temos um serviço de qualidade, que podemos salvar muitas vidas, mas infelizmente os contratos com a saúde pública são muito tímidos”, disse.
Capacidade para salvar vidas
Durante os cinco meses de trabalho da comissão, levantou-se que existem cerca de 600 pessoas com problemas cardíacos aguardando pelo exame de cateterismo. Em dois anos, 21 pessoas morreram sem conseguir fazer o exame. O cateterismo é um exame considerado simples, que pode ser feito pela virilha e detecta que tipo de doença cardíaca está afetando o coração.
A cardiologista explicou ainda que em 80% dos casos o cateterismo já consegue fazer a desobstrução das artérias, eliminando a necessidade de cirurgia. O exame é feito em uma hora e no máximo em seis horas o paciente está de volta em casa. Atualmente, o preço médio do exame na rede particular custa R$ 2 mil. Numa ampla pesquisa realizada no Brasil, a taxa média de mortes por doenças cardiovasculares reduziu, nos últimos 20 anos, 3,09%. No entanto, 46% das mulheres brasileiras acima de 40 anos, nesse mesmo período, apresentaram infarto do miocárdio.
VIGILÂNCIA
Num levantamento minucioso da CPI da Saúde, formada pelos deputados estaduais Walace Guimarães(relator), Sergio Ricardo(presidente) Percival Muniz, Chica Nunes e Antonio Azambuja, existem 120 mil pessoas aguardando qualquer tipo de atendimento médico, desde consultas a exames e cirurgias de alta complexidade. A maioria dos pacientes é do interior e depende da regulação dos serviços que até então era feita somente pela Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá. Com os levantamentos feitos pela comissão detectou-se um verdadeiro “caos” na saúde pública, com policlínicas e pronto-socorros sem estrutura, atendimento e medicamentos. Os hospitais regionais também sofrem com os mesmos problemas e carecem de serviços de alta complexidade. Há um mês os deputados membros da comissão entregaram um documento ao governador Silval Barbosa contendo 19 recomendações para reorganizar a saúde pública. Dois dos pontos mais importantes do documento estão sendo atendidos: o Programa Fila Zero e a regulação dos serviços de alta complexidade.