Os Estados Unidos tentaram enviar um vírus de computador para destruir o programa nuclear daCoreia do Norte há cinco anos, mas não obtiveram sucesso no ataque. A operação americana tinha os mesmos objetivos da que foi realizada contra o Irã, entre 2009 e 2010. Na ocasião, um programa malicioso chamado Stuxnet foi enviado por agentes americanos e israelenses para usinas nucleares iranianas, destruindo milhares de centrífugas que mantinham urânio enriquecido. A inteligência dos Estados Unidos desenvolveu uma versão semelhante do vírus que seria ativada quando entrasse em contato com a linguagem coreana empregada nos códigos das usinas de Pyongyang. Os agentes, contudo, não conseguiram ter acesso à tecnologia que mantém protegidas as centrífugas da ditadura comunista.
Segundo fontes familiarizadas com a operação, o ataque falhou devido ao isolamento dos sistemas de comunicação da Coreia do Norte. O país é o mais fechado do mundo e restringe ao máximo a interação de funcionários do governo e dos civis com o exterior. Ter um computador dentro de casa exige uma permissão da polícia. Já navegar na internet desbloqueada é privilégio de uma pequena elite do país. O Irã, em contrapartida, possui uma rede de internet mais ampla e interage com diversas companhias ao redor do mundo. As diferenças foram cruciais para que o ataque americano contra Teerã surtisse efeito.
Especialistas em programas nucleares disseram que há semelhanças entre as operações lançadas pelos Estados Unidos contra Irã e Coreia do Norte, uma vez que os dois países continuam colaborando na troca de tecnologia militar. Ambos utilizam o sistema P-2 de centrífugas, obtido através do cientista paquistanês A. Q. Khan – o pai da bomba nuclear de Islamabad. Assim como Teerã, Pyongyang provavelmente administra as centrífugas com um software desenvolvido pela Siemens AG e compatível com o sistema operacional da empresa Microsoft Windows. Os analistas acreditam que, caso o vírus americano tivesse acessado a rede das usinas nucleares norte-coreanas, os Estados Unidos teriam alcançado o objetivo de destruí-las.
Há controvérsias, no entanto, com relação aos danos reais que um ataque cibernético americano teria provocado ao programa nuclear de Pyongyang. No caso do Irã, todas as usinas nucleares eram conhecidas do Ocidente, o que não se repete na Coreia do Norte. Os serviços de inteligência ainda não conseguiram precisar o número exato de plantas construídas pela ditadura comunista no complexo nuclear de Yongbyon. Além disso, a Coreia do Norte tem acesso a plutônio, que não precisa ser enriquecido da mesma forma que o urânio. "[Um ataque cibernético] não é algo que você pode lançar e ter certeza dos resultados", disse Jim Lews, um conselheiro do governo americano em assuntos ligados à segurança digital.
A Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês) dos Estados Unidos se negou a comentar o episódio. A inteligência americana já lançou uma série de operações de espionagem no passado, mas, até onde se tem notícia, a utilização de vírus para destruir equipamentos só ocorreu na Coreia do Norte e Irã. Washington é alvo de constantes ameaças feitas por Pyongyang e expressa com frequência suas preocupações com relação ao arsenal nuclear que o regime comunista possa ter à disposição. Na última semana, o secretário de Estado americano, John Kerry, disse que, ao contrário do Irã, a Coreia do Norte "não está nem perto" de se adequar às medidas exigidas pela Casa Branca para se discutir um acordo nuclear.
(Da redação com agência Reuters)Site:Veja