O controverso acordo bilateral que permitiu que os Estados Unidos ampliassem o número de tropas na Colômbia voltou a causar polêmica entre os presidentes dos países integrantes da União das Nações Sul-americanas (Unasul). A pretexto de ajudar no combate ao narcotráfico, os norte-americanos ganharam livre acesso a sete bases no país e geraram uma grave crise institucional.
Em meio a protestos cada vez mais contundentes pela presença de tropas por parte dos presidentes Rafael Correa, do Equador, Evo Morales, da Bolívia, e Hugo Chavez, da Venezuela, o Brasil assumiu o papel de mediador.
No último dia 21, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou para o presidente Barack Obama para pedir garantias jurídicas a todos de que as ações dos Estados Unidos, a partir das novas bases, se limitariam ao território colombiano.
A preocupação tem justificativa. A ampliação da presença militar dos Estados Unidos na Colômbia está diretamente ligada à estratégia de intervenções em outros países, política que se radicalizou após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
A realocação de tropas no mundo vai além da mera ajuda no combate ao narcotráfico. Se dependesse dos estrategistas norte-americanos, aliás, os Estados Unidos teriam também uma base no Recife, no Brasil.
Acesso a todos os países
Em março de 2009, almirantes, brigadeiros, generais e embaixadores norte-americanos realizaram um simpósio para discutir estratégias para as próximas duas décadas, com especial atenção para as rotas aéreas de possíveis ataques.
No encontro, manifestaram o interesse em contar com uma base na costa do Atlântico, de preferência no Recife, no Brasil. Manter livre o acesso a todos os países é considerado um ponto-chave na estratégia norte-americana e o Nordeste brasileiro seria ponto de abastecimento para eventuais ataques na África.
O interesse em uma base no Recife está registrado no documento “Global en Route”, onde, após considerações sobre distâncias necessárias para abastecimento, os militares lamentam que atualmente “o relacionamento político com o Brasil não é favorável aos acordos necessários”.
Segundo a Aeronáutica, a instalação de bases dos Estados Unidos no Brasil não é nem cogitada. A presença de bases norte-americanas na Colômbia, próximas à fronteira, já gera desconforto entre os militares brasileiros.
O Ministério da Defesa têm mantido conversações com os norte-americanos e colombianos e diz que estes asseguraram que “não haverá bases norte-americanas na Colômbia, mas apenas o uso de bases colombianas por militares norte-americanos”, e também que “essas atividades destinam-se a combater o narcotráfico e que os voos não ultrapasarão o território colombiano.”
Natal abrigou base
A pretensão de usar o Brasil como ponte aérea para missões na África tem um fundamento histórico. Durante a 2ª Guerra Mundial, o Governo Federal cedeu espaço em Natal, no Rio Grande do Norte, para a instalação de uma base dos Estados Unidos. O ponto de apoio aéreo foi considerado decisivo para o sucesso dos aliados na derrota dos nazistas e fascistas no Norte da África e na Sicília, na Itália.
A presença dos norte-americanos no Brasil, porém, limitou-se ao período da guerra e foi permitida em troca do financiamento da siderúrgica de Volta Redonda, que serviu de base para a industrialização brasileira.
F.Uni/Por Daniel Santini