A representante comercial dos Estados Unidos, Susan Schwab, propôs nesta terça-feira um limite de US$ 15 bilhões por ano no pagamento de subsídios aos produtores agrícolas americanos, como forma de fazer avançarem as negociações na Rodada Doha de liberalização do comércio global.
A proposta anterior dos EUA era de adotar um teto de US$ 16,4 bilhões em pagamentos de subsídios. Atualmente, o limite dos EUA para as subvenções à agricultura é de US$ 48 bilhões, mas a representante americana reconheceu que nunca foi desembolsada essa quantia. Por outro lado, ela disse que há cerca de cinco anos essas ajudas alcançaram US$ 24 bilhões.
Mesmo com a redução, para o Brasil o valor ainda é considerado elevado, segundo disse um membro da delegação brasileira em Genebra ouvido pela agência de notícias France Presse. Os países do G20 (grupo de países emergentes, liderado por Brasil e Índia) consideram adequado um limite de US$ 12 bilhões para os subsídios aos agricultores americanos.
“Em troca de um acesso ambicioso aos mercados, estamos prontos para reduzir nosso apoio interno que distorce o comércio a US$ 15 bilhões”, disse Schwab, em entrevista durante o segundo dia de reuniões de representantes de países-membros da OMC (Organização Mundial do Comércio). “É um passo muito importante, que damos de boa fé, à espera das propostas dos outros”, afirmou.
Ela disse que fazia a oferta sem saber o que responderiam os demais ministros presentes em Genebra. Schwab foi clara ao indicar que esta proposta deveria dar lugar a concessões dos outros países e que, nesta ocasião, todos têm que tomar “decisões difíceis”.
Ontem, ela já havia dito que os EUA para fazer mais contribuições a fim de destravar as negociações da Rodada Doha, mas que países emergentes como Brasil, Índia e China também precisam fazer sua parte.
“Mas sabemos que teremos de ir além das muitas que já colocamos sobre a mesa”, disse Schwab. “Esperamos ver contribuições dos outros.”
A Comissão Européia, órgão executivo da União Européia, considera “razoável” a proposta dos Estados Unidos para reduzir até US$ 15 bilhões suas ajudas agrícolas, disse o porta-voz de Comércio europeu, Peter Power.
“Os EUA não chegaram com essa proposta o mais longe que poderia, mas assumimos que isso dependerá das negociações que restam e que se alcance um equilíbrio nos outros setores sobre os quais estamos discutindo neste momento”, disse Power, porta-voz do comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson.
A União Européia pode mostrar disposição semelhante, reduzindo em 60% suas tarifas aduaneiras sobre produtos agrícolas, contra os 54% que já haviam sido anunciados, disse ontem Peter Power, porta-voz do comissário europeu do Comércio, Peter Mandelson. “É um avanço bastante considerável (…) É uma melhora substancial, que deve dar impulso importante às discussões em Genebra nesta semana.”
Totalmente inútil
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem, primeiro dia da retomada das negociações da Rodada Doha, que a primeira sessão de trabalho foi “totalmente inútil”.
Comentário: Declaração infeliz expõe má vontade em negociar
“Sem surpresas, mas também sem idéias. Estamos no mesmo ponto anterior da reunião”, afirmou Amorim. “Talvez tenha sido uma reunião necessária, era preciso fazê-la, mas realmente e totalmente inútil do meu ponto de vista, porque não ouvi nenhuma idéia nova, nenhuma sugestão”, afirmou.
O primeiro dia também foi marcado pelas críticas da representante comercial americana, Susan Schwab, feitas ao comentário de Amorim, que no sábado (19) comparou a resistência dos países ricos em negociar com a atitude do chefe da propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels. O ministro lembrou que, em sua estratégia, Goebbels dizia que uma mentira contada muitas vezes acaba sendo aceita como verdade.
Schwab foi mais positiva ao comentar o primeiro dia de discussões. “Alguns países começaram a falar realmente do que podemos fazer, centralizando-se no que podem fazer e no que não podem”, declarou.
Mais cedo, ela desfez a imagem de que o comentário de Amorim sobre o chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels, serviria para desviar a atenção do foco, que é a retomada das negociações da Rodada Doha. “Esta não é a hora nem a semana para cair de novo em retórica ultrapassada –destinada a perpetuar velhas divisões e criar outras novas”, disse. “Estamos esperando para ver contribuições de outros, inclusive dos mercados emergentes mais significativos” para que se chegue a uma conclusão bem sucedida da rodada, afirmou.
F.on .L