quinta-feira, 21/11/2024
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Estudos questionam sucesso de exames que identificam câncer de próstata

No mês passado, dois grandes estudos dos Estados Unidos e da Europa descobriram que o exame APE (antígeno prostático específico) – o exame de sangue anual usado para detectar câncer de próstata em homens – consegue salvar poucas vidas, quando consegue salvar alguma, ao mesmo tempo em que expõem os pacientes a tratamentos agressivos e desnecessários, capazes de deixá-los impotentes e incontinentes.

Essas notícias foram desconcertantes e causaram confusão em muitos homens de meia-idade, particularmente aqueles que já receberam diagnóstico de câncer de próstata como resultado do exame APE. Médicos afirmam que alguns homens estão reconsiderando cirurgias ou tratamentos com radiação antes planejados. Outros, convencidos de que suas vidas foram salvas pelo exame APE, se perguntam como alguém pode questionar o valor da detecção precoce do câncer de próstata.

Diante de toda esta confusão, o que um homem deve pensar? Aqui vão algumas respostas às perguntas frequentes.

O que os estudos realmente mostraram?

A conclusão de ambos os estudos é que o exame APE encontra, sim, mais casos de câncer de próstata – entretanto, descobrir esse câncer precocemente não ajuda muito a reduzir o risco de morte em decorrência da doença.

O estudo americano não mostrou nenhuma diferença estatística nos índices de morte por câncer de próstata entre um grupo de homens examinados através do procedimento e um grupo-controle que não foi. Os pesquisadores europeus descobriram que o exame APE reduz o risco de morte por câncer de próstata em cerca de 20%.

No entanto, em termos de riscos individuais, não representa um grande benefício. Isso significa que um homem não examinado tem, em média, 3% de chance de morrer de câncer de próstata. Se um homem se submete a exames APE anuais, seu risco cai para 2,4%.

E aqui há uma importante contrapartida. O exame APE aumenta os riscos de um homem ser tratado de um câncer nunca antes o prejudicado em primeira instância. O estudo europeu descobriu que, para cada homem ajudado pelo exame APE, pelo menos 48 receberam tratamentos desnecessários capazes de aumentar seu risco de impotência e incontinência. Dr. Otis Brawley, diretor médico da Sociedade Americana de Câncer, resumiu os dados europeus da seguinte forma: “O exame tem 50 vezes mais probabilidade de arruinar sua vida do que salvá-la”.

Então, esses estudos estabelecem um debate sobre o valor do exame APE?

Não necessariamente. Ambos têm falhas que dificultam a interpretação dos dados. O estudo americano não encontrou nenhum benefício no exame APE por um período de sete a dez anos. Porém, até agora, apenas cerca de 170 homens, de um grupo de 77 mil estudados, morreram de câncer de próstata. Esse tipo de câncer cresce lentamente, então é possível que, nos próximos anos, diferenças significativas nos índices de mortalidade entre os dois grupos possam emergir.

Uma preocupação ainda maior é o que os estatísticos chamam de “contaminação” no grupo-controle não-examinado. Pelo fato de não ser ético dizer aos homens no grupo-controle que eles não poderiam ser examinados, muitos procuraram fazer o teste ou foram instruídos pelos médicos a fazerem-no.

Os pesquisadores inicialmente estimaram que 20% do grupo-controle se encaixaria nessa categoria, mas os números acabaram sendo muito maiores – de 38% a 52%. Como resultado, o estudo não compara realmente os riscos e benefícios do exame e da abstenção do mesmo. Ele compara testes em massa com alguns realizados de forma pontual.

O fato de muitos homens no grupo não examinado terem “caído” na categoria de homens examinados é “uma séria preocupação”, disse Dr. Eric A. Klein, diretor do Instituto Urológico e do Rim Glickman da Clínica Cleveland. Ele ainda acrescentou: “O argumento para a realização do exame hoje não difere de antes. Esses estudos não estabelecem o assunto de forma definitiva, nem de uma forma, nem de outra”.

Os pesquisadores americanos disseram que, apesar da contaminação ter, sim, complicado a interpretação dos dados, eles ainda estão confiantes na descoberta de que existe pouco ou nenhum benefício na realização do exame APE. “Nossos estatísticos ainda sentiram uma restrição na força do estudo para detectar um benefício médico significativo”, disse Dr. Barnett S. Kramer, co-autor da pesquisa e diretor associado para prevenção de doenças do Instituto Nacional de Saúde.

A análise europeia também tem seus próprios problemas. Apesar da descoberta, da capacidade do exame APE reduzir as mortes por câncer em 20%, ser estatisticamente significativa, especialistas afirmam que ela está no limite, e alguns anos a mais de dados poderiam enfraquecer os resultados. Finalmente, partes do estudo não foram “cegas”, o que reitera a possibilidade de tendências terem influenciado a interpretação dos dados.

Isso significa que os homens não devem se submeter a exames de câncer de próstata?

Não. Antes da publicação desses estudos, a maioria dos grupos médicos afirmava que o exame APE era uma decisão pessoal, discutida entre o homem e seu médico. Os dois novos estudos provavelmente não mudarão esse conselho, afirmam especialistas. Em vez disso, eles trazem aos pacientes e aos médicos mais informação para a tomada de decisão.

No caso de homens mais velhos, a decisão de realizar o exame deveria ser mais fácil. O exame APE já não é recomendado para homens com 75 anos de idade ou mais. A pesquisa americana confirma que a análise não é muito útil para homens com expectativa de vida de dez anos ou menos. Quanto ao estudo europeu, no grupo de homens com 70 anos ou mais, houve mais mortes na amostra que realizou o exame APE, apesar da tendência ter sido fruto do acaso.

O conselho é mais turvo para homens de meia-idade. No estudo europeu, homens entre 50 e 54 anos não tiveram benefícios com o exame. Porém, outros, entre 55 e 69, tiveram 20% menos probabilidade de morrer de câncer de próstata em relação àqueles que não realizaram o exame. Ainda assim, homens dessa faixa etária devem decidir se os altos riscos do tratamento desnecessário valem a pena.

Co-autor do estudo americano, Dr. Gerald L. Andriole Jr., cirurgião da Universidade de Washington, afirma que, apesar de nem todos os homens realizarem o exame APE, ele também não recomenda uma “interrupção generalizada”.

Homens de meia-idade ou homens mais velhos, com expectativa de vida de dez anos ou mais, “precisam ser informados sobre os prós e contras em potencial do exame”, disse ele. O médico ainda acrescentou: “Se eles quiserem embarcar nessa, tudo bem. Ainda estou aberto a aceitar o fato de ainda precisarmos aprender muito sobre a próstata do homem e sobre a probabilidade dele ter câncer de próstata ao realizar o APE”.

Brawley, da Sociedade Americana de Câncer, concordou que indivíduos diferentes podem chegar a decisões diferentes depois de uma conversa com seus médicos.

“Existe um homem por aí cuja experiência pessoal fez com que ele tivesse pavor de câncer de próstata, então, nesse caso, talvez ele devesse ser examinado”, disse Brawley. “E existem também homens que veem essa proporção, de 48 para um, e dizem: “Não quero ser examinado”. É uma decisão pessoal, individual. Não podemos criticar os homens que querem ou os que não querem ser examinados”.

E se você estiver num grupo de alto risco, como afro-americanos, ou homens com forte histórico familiar de câncer de próstata?

Os estudos não incluem dados suficientes para fazer recomendações definitivas nesses casos. Andriole disse que homens com riscos mais altos, recebedores de um diagnóstico de câncer de próstata como resultado do exame, devem ser confortados pelo fato de não precisarem correr para receber tratamentos agressivos. Tenha em mente que o câncer de próstata geralmente não é fatal.

“É uma ferramenta excelente para ajudar um homem a medir seu risco de ter câncer de próstata”, disse Andriole. “Isso significa, necessariamente, que o câncer é fatal? A resposta é não. Devemos ser mais criteriosos. Temos de modificar a forma como estamos reagindo a exames anormais, considerando o que sabemos hoje”.

Os homens ainda devem se submeter ao exame do toque retal?

Nenhum estudo oferece conclusões sobre o valor desse exame tradicional, no qual um médico procura sentir na próstata uma dureza ou saliências capazes de sinalizar um risco de câncer de próstata. O estudo americano observou combinações de exames APE e de toque retal e não encontrou nenhum benefício. O estudo europeu não oferece nenhuma evidência específica sobre o exame.

Esses novos estudos significam que você deva cancelar a cirurgia ou a radioterapia?

Os dados do estudo falam somente sobre os riscos e benefícios do exame APE em homens saudáveis e sem sintomas. Se seu câncer foi detectado como resultado de sintomas, nada no estudo deveria mudar o aconselhamento médico já recebido. Sinais precoces de câncer de próstata podem incluir dificuldade de urinar, sangue no sêmen ou na urina.

Mesmo se o câncer tenha sido detectado como resultado de um exame APE, os dados têm aplicabilidade limitada à situação pessoal de cada um. Os dois estudos observam os riscos e benefícios médios num amplo grupo de homens, mas não levam em consideração os fatores específicos que influenciam os riscos individuais.

Qual seu resultado no exame Gleason – que mede a agressividade do câncer? Qual o seu histórico familiar? Qual a quantidade de câncer encontrada em cada biópsia? Você repetiu a biópsia para confirmar o caso? As respostas para todas essas perguntas darão a um homem informações melhores sobre como proceder. Ao mesmo tempo, até mesmo essas respostas não podem prever, com precisão, o risco de um individuo desenvolver um câncer grave.

“A triste verdade é que não temos ferramentas realmente boas para determinar, do mar de câncer que encontramos, quais são bons e quais são ruins”, disse Andriole. Para um homem com cirurgia marcada para amanhã e que agora já não sabe o que fazer, não temos muito o que lhe dizer neste momento”.

G1

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Parmenas Alt
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