domingo, 22/12/2024
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Estudo revela os maiores elefantes brancos entre os estádios do mundo

Elefantes brancos são mais fáceis de encontrar em grandes cidades do que na natureza. A espécie albina do animal de tromba e quatro patas raramente sobrevive nas savanas e florestas. Mas a versão urbana, ainda mais pesada, espalha-se com facilidade por sedes de torneios esportivos. Novos exemplares devem aparecer ainda neste ano em Londres, Varsóvia e Kiev após as Olimpíadas e a Eurocopa. Arenas que custam milhões e que ficam praticamente sem uso. Segundo um estudo publicado na Dinamarca, quase nenhum grande evento nos últimos 16 anos escapou de um elefante branco. Os maiores deles estão no Japão e em Portugal. Os próximos, talvez no Brasil.
O "World Stadium Index" (WSI, "Índice dos Estádios do Mundo" em inglês) é um relatório do Instituto Dinamarquês de Estudos do Esporte (Idan) em parceria com a organização "Play the Game" que investigou 75 arenas em 20 países construídas entre 1996 e 2010 para grandes competições esportivas. A lista inclui Jogos Olímpicos, Copa do Mundo, Eurocopa, Copa Africana de Nações, Jogos Pan-Americanos, Jogos Asiáticos, Jogos Pan-Africanos e Jogos da Comunidade Britânica. O índice WSI é baseado no total de público dos estádios durante o ano de 2010 (em eventos esportivos ou não) dividido pela capacidade desses estádios. Os custos de construção também foram levados em conta. Por causa da falta de informações disponíveis sobre algumas arenas, sobretudo na África, apenas 46 dos 75 estádios analisados aparecem no ranking.

Segundo o estudo, coordenado pelo pesquisador Jens Alm, a arena com pior WSI e, portanto, o elefante branco número 1 encontra-se em Nagano, no Japão. O Estádio Olímpico da cidade foi construído para os Jogos de Inverno de 1998. Não é nem de longe o mais caro da lista (US$ 108 milhões) mas é o que menos tem uso. Atualmente, serve de casa para o Shinano Grandserows, time de beisebol de uma liga semi-profissional japonesa. Em 2010, a arena de 30 mil lugares recebeu apenas 11 partidas durante todo o ano, com uma média de apenas 1.620 torcedores por jogo (índice WSI, 0.6)
O único estádio brasileiro no WSI é o Engenhão, o Estádio Olímpico João Havelange, no Rio de Janeiro. Construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007, ele também será o local das competições de atletismo das Olimpíadas de 2016. Os pesquisadores citam o fato de o Engenhão ter custado quase três vezes mais do que os US$ 70 milhões estimados inicialmente, com cada assento ao preço de US$ 4.263, o 28º mais caro entre os 75 estádio do estudo. Baseado nos números da temporada 2010, a frequência de utilização do estádio foi considerada boa (WSI, 12), aparecendo em 23º lugar entre 46 arenas. Mas o estudo questiona o que irá acontecer após a reabertura do Maracanã.

"O número de espectadores do Estádio Olímpico irá provavelmente diminuir pois Flamengo e Fluminense deverão disputar seus jogos novamente no Maracanã. A média de público do Botafogo sozinho contribui apenas para um índice modesto. A pista de atletismo também deverá receber poucos eventos após as Olimpíadas", diz o estudo.
Além da arena de Nagano, outros três dos quatro piores colocados são estádios construídos para torneios de futebol. A arena com o segundo pior WSI também fica no Japão. O Miyagi Stadium, em Rifu, custou US$ 318 milhões e tem capacidade para 49.133 pessoas. Foi sede de três confrontos na Copa do Mundo de 2002, um deles a surpreendente eliminação da Argentina na primeira fase após um empate em 2 a 2 com a Suécia. A exemplo de outras arenas do Mundial, raramente enche. No ano do estudo, foi palco de quase 80 eventos, mas em média não passou de mil espectadores.
Em Rifu, as principais equipes de futebol, Vegalta Sendai, e beisebol, Tohoku Rakuten Golden Eagles, já tinham seus próprios estádios e continuaram a usá-los após a construção do Miyagi Stadium. O mesmo problema ameaça o Estádio Olímpico de Londres (preço: US$ 750 milhões) e o Estádio Nacional de Varsóvia (US$ 650 milhões), sede do jogo de abertura do Euro 2012, cidades onde os clubes locais já contam com os próprios campos.

No caso de Londres, a negociação sobre quem vai tomar conta da arena olímpica depois dos Jogos já se arrasta há mais de três anos. Um dos principais motivos é o futuro da pista de atletismo. O Tottenham interessou-se em arrendar a arena mas retirando a pista e transformando-a num estádio apenas para futebol – a exemplo do que foi feito no Etihad Stadium, do Manchester City, construído para os Jogos da Comunidade Britânica de 2002. Manter a pista de atletismo foi o depromessa feita ao COI quando da vitória da candidatura londrina, por isso, a proposta do clube foi descartada.
Outro time londrino, o West Ham, apresentou um projeto mantendo a área para atletismo mas com alterações na cobertura da arena e assentos retráteis que ficariam a cargo da administração do estádio e custariam ainda mais dinheiro aos cofres públicos. Ainda assim, parecia o favorito a assumir o local. Na última terça-feira, porém, o processo de apresentação de projetos foi estendido por mais oito semanas. O risco de o Estádio Olímpico virar um elefante branco continua.
Por causa de situações como esta, o estudo dinamarquês questiona tanto o legado esportivo quanto o desperdício de dinheiro das cidades que constroem estádios para grandes eventos.
"Em vez de levar em conta as necessidades locais, muitos responsáveis pelos estádios escolhem construi-los levando em conta a exigências externas. Isso faz com que muitas arenas não se adaptem ao uso diário depois dos eventos, resultando não apenas em estádios vazios e um legado esportivo negativo, mas também em custos mais altos de manutenção para os proprietários – normalmente estados e municípios. Eventos semanais capazes de atrair bom público são fundamentais para que uma arena não se torne um grande prejuízo", diz o estudo.
O relatório também critica as organizações esportivas pelas exigências em relação à capacidade das arenas, lembrando que tanto Fifa quanto Uefa não aceitam estádios com menos de 40 mil lugares na Copa do Mundo e na Eurocopa.
"Afrouxar as exigências de infraestrutura dos estádios não diminuiria as preocupações com segurança, mas reduziria a pressão em relação à capacidade e o número de estádios que cada candidato precisa para organizar um evento de grande porte", acrescenta.

Portugal aparece com dois estádios entre os cinco maiores elefantes brancos, ambos levantados para o Euro 2004 em cidades onde os times de futebol não costumam atrair grande público, a exemplo do que pode acontecer no Brasil após 2014 em sedes como Brasília, Cuiabá e Manaus. Quarto pior WSI, o Estádio Municipal em Aveiro tem capacidade para 30.127 espectadores mas a equipe da casa, o pequeno Beira-Mar, não atrai nem 4 mil torcedores em média. Enquanto isso, a prefeitura local gasta US$ 5,3 milhões por ano em custos de manutenção e discute a demolição da arena. O quinto maior elefante branco, o Estádio Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria, não foi sequer usado pelo rebaixado União Leiria na última temporada. A arena de US$ 121 milhões foi construída para receber apenas dois jogos do Euro 2004.
O Khalifa International Stadium em Doha, no Qatar, tem o terceiro pior WSI. Construído para os Jogos Asiáticos de 2006, ele será uma das sedes da Copa do Mundo de 2022, com sua capacidade passando dos 50 mil atuais para 68 mil lugares. Desde sua abertura, foi também local de partidas da Copa da Ásia e dos Jogos Pan-Árabes em 2011, mas passa a maior parte do ano vazio. O estudo lembra que o Qatar, que já tem problemas de público com os estádios atuais, ainda irá construir ou reformar outras dez arenas até o Mundial.
Bons exemplos também existem. A Copa do Mundo de 2006 na Alemanha é o evento mais bem sucedido entre todos os analisados pelo estudo. As novas arenas, os preços dos ingressos mais em conta do que das outras grandes ligas europeias, o equilíbrio entre os times e o bom momento da seleção alemã, cuja maioria dos jogadores atua no país, são alguns dos fatores que explicam o porquê de a Bundesliga ser o campeonato de melhor média de público da Europa.

Dois estádios do Mundial de 2006 aparecem entre os quatro melhores dos 75 avaliados pelo WSI. A Allianz Arena, casa do Bayern de Munique e local da final da Liga dos Campeões, ficou em terceiro e o RheinEnergie, estádio do Colonia, recém-rebaixado na Bundesliga, em quarto. Mas nem a Alemanha escapou do seu elefante branco, por causa de uma sede escolhida por motivos mais políticos do que esportivos. Leipzig foi a única cidade da antiga Alemanha Oriental a receber jogos da Copa do Mundo de 2006, mas mesmo na época não contava com equipes nas duas principais divisões do futebol alemão. O Zentralstadion, hoje RB Arena, foi arrendado por um time da Quarta Divisão, o RB Leipzig, cujos torcedores nunca ocupam mais do que um quarto dos 44.345 lugares.
No lado oposto da lista dos elefantes brancos, o estádio de melhor índice entre todos foi o Turner Field, na cidade americana de Atlanta, construído para ser o estádio olímpico dos Jogos de 1996. Desde então, foi transformado numa arena de beisebol com capacidade para 49.586 espectadores e virou a casa do Atlanta Braves, equipe da Major League Baseball. Em segundo lugar ficou o Sapporo Dome, no Japão, construído para apenas três partidas do Mundial de 2002. Após a Copa, passou a ser utilizado não apenas para jogos de futebol e beisebol mas também uma série de outros eventos, desde shows de música até competições de esqui e ralis.

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Parmenas Alt
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