Harmeet Kaur, da CNN
Não é com quem você está, mas a dinâmica que vocês têm.
Essa é a maior conclusão de um estudo referência que explora o que torna os relacionamentos bem-sucedidos, publicado nesta segunda-feira (27) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Esteja você procurando por um potencial parceiro deslizando para a direita em algum aplicativo, ou analisando pilhas de dados, como no reality show da Netflix Casamento à Indiana, talvez haja algo para você nas descobertas dos pesquisadores.
Cientistas tentam entender o que faz um relacionamento bom por décadas. Mas a maior parte desses estudos só analisavam algumas variáveis de uma só vez, disse Samantha Joel, líder do estudo e professora assistente na universidade Western em London, província canadense de Ontário, à CNN.
Joel e seus colegas analisaram informações de mais de 11 mil casais, escolhidos a partir de 43 conjuntos de dados que monitoraram esses relacionamentos por uma média de um ano, para determinar até onde seria possível prever a qualidade de um relacionamento e quais medidas seriam utilizadas nessa previsão.
O que eles encontraram é que o seu próprio julgamento de uma relação — ou seja, o quanto você sente que seu parceiro está satisfeito ou o apreço que você tem por ele — diz mais sobre a qualidade desse relacionamento do que a personalidade de cada um.
“Quando o assunto é uma relação satisfatória, a parceria que vocês constroem é mais importante do que o parceiro que você escolhe”, disse Joel.
Em outras palavras, não foque tanto em analisar se uma pessoa se encaixa no seu tipo ou se preenche todos os seus requisitos. Ao invés disso, pense em como vocês estão interagindo com o outro e se a relação lhe dá satisfação.
O que faz um bom relacionamento
Parece que algumas medidas podem prever com mais certeza a qualidade de um relacionamento do que outras.
Os pesquisadores avaliaram a qualidade dos relacionamentos observando características individuais, como idade, gênero, renda e traços de personalidade, bem como características da própria relação, como afeição, conflitos, apoio, entre outras.
A própria percepção de cada um sobre o relacionamento foi responsável por cerca de 45% da satisfação atual sobre a relação no começo do estudo e cerca de 18% ao fim do estudo.
Especificamente, as características do relacionamento que previram melhor a satisfação de cada pessoa foram:
1. Percepção do comprometimento do parceiro;
2. Apreço;
3. Satisfação sexual;
4. Percepção da satisfação do parceiro;
5. Conflitos
As características individuais de cada um, enquanto isso, explicavam cerca de 21% da satisfação com o relacionamento no começo do estudo e aproximadamente 12% ao fim.
As características individuais que melhor previram a satisfação com o relacionamento foram:
1. Satisfação com a vida;
2. Afetividade negativa [maior propensão a sentimentos negativos e baixa autoestima];
3. Depressão;
4. Evasão de apego;
5. Ansiedade em relação ao apego.
“De maneira curiosa, a personalidade do parceiro ou a percepção do parceiro sobre o relacionamento pareceu importar muito pouco”, disse Joel.
E enquanto fatores como a sua personalidade e se você passa por depressão ou ansiedade podem muito bem afetar a qualidade do seu relacionamento, construir uma união que te faz sentir satisfeito e seguro pode compensar todas essas coisas, escreveu a autora do estudo.
“O fato de que características individuais previram a qualidade dos relacionamentos, mas não ofereceram nenhum poder preditivo único além dos fatores relacionais, sugerem que características individuais são importantes, sim, mas seus efeitos na qualidade dos relacionamentos podem ser atribuídos a seus efeitos na dinâmica do relacionamento”, disse Justin Lavner, um psicólogo da Universidade da Geórgia que não estava envolvido no estudo, à CNN.
O que os pesquisadores não conseguiram determinar, contudo, é como a qualidade de um relacionamento pode mudar com o tempo.
O estudo também se apoiou em autoavaliações dos participantes para chegar às conclusões, e Joel disse que pesquisas no futuro deverão explorar se esses resultados seriam diferentes se essas características fossem medidas por estudos de observação ou fisiologia, bem como se essas conclusões se aplicam a casais que não são do Ocidente.
Lavner acrescentou que seria útil saber o quanto fatores externos, como dificuldades financeiras e estresse, poderiam afetar a qualidade de um relacionamento.
O que isso significa para sua vida amorosa
Há algumas conclusões aqui para aplicar em sua própria vida, os especialistas disseram.
Primeiramente, preste atenção à dinâmica do seu relacionamento.
“Para mim, parece que o relacionamento é mais do que a soma de duas partes”, disse Joel. “É a dinâmica do próprio relacionamento, ao invés dos indivíduos que o compõem, que parece ser mais importante para a qualidade dessa união”.
Também vale a pena avaliar seus próprios sentimentos em relação a esse envolvimento.
“Outra conclusão é que essas percepções apontavam a qualidade do relacionamento em um determinado momento, mas o mesmo padrão foi encontrado em um monitoramento subsequente”, disse Lavner. “O que sugere que como você se sente agora pode ser de alguma forma um diagnóstico de quais serão seus sentimentos no futuro”.