Quantas vezes você já ouviu falar que o mundo acabaria?
Em 2.800 a.C., uma tábua assíria feita de argila já continha a inscrição: “Nossa Terra está degenerada nestes últimos dias; há sinais de que o mundo está chegando ao fim rapidamente; suborno e corrupção são comuns; os filhos não obedecem mais aos pais; todo homem quer escrever um livro e o fim do mundo está evidentemente se aproximando.”
Apesar de sua datação, o tom da inscrição parece atemporal se comparado com tudo o que já aconteceu ao longo desses séculos, e faria até mais sentido que o mundo acabasse atualmente do que naquele remoto fragmento do passado onde os povos assírios estavam vivendo. E, como a profecia não se findou, quatro séculos mais tarde, os assírios estabeleceram um império que abrangeu a maior parte do Oriente Próximo. O reinado todo teve um fim abrupto em 612 a.C., quando a capital do império foi atacada pelo exército babilônico.
Além disso, é impossível mencionar o fim da civilização humana sem tocar no nome de Nostradamus, o responsável por compilar em sua “bíblia profética” de 1555, intitulada Les Prophéties, premonições sobre o fim do mundo. Estas foram interpretadas e reinterpretadas ao longo dos séculos, muitas delas sendo assertivas em aspectos bizarros.
Nessa “bacia profética”, também é importante adicionar os maias, cujas revelações geraram alarde mundial especialmente em 2012, e os Segredos de Fátima.
Em meio ao frenesi religioso e místico, o que a ciência acha não está muito longe do que já foi previsto. Com os cientistas da organização Bulletin of Atomic Scientists tendo movido os ponteiros do simbólico Relógio do Juízo Final para 100 segundos para a meia-noite — o mais próximo que já chegamos de uma catástrofe nuclear —, a probabilidade está cada vez mais próxima, inclusive, existe até uma data para ela: 2050.
O começo do fim
Em 2019, antes mesmo dos ponteiros do relógio serem movidos para tão perto da meia-noite, um artigo chamado Existential Climate-related Security Risk: A scenario approach, publicado no National Center for Climate Restoration, apontou que, se não forem tomadas medidas drásticas pelos formuladores de políticas para reduzir a taxa de mudança climática, o ano de 2050 será o fim da raça humana.
Escrito pelo pesquisador climático David Spratt e o ex-executivo de combustíveis fósseis Ian Dunlop, o artigo foi criado com o intuito de teorizar um cenário possível de fim do mundo, em vez de provável — porque as probabilidades dependem muito do que é conhecido da história, e ainda não há história que corresponda à situação de urgência que o mundo se encontra.
A Terra está mais quente do que desde que os humanos começaram a caminhar nela. Como uma matéria de Madaleine Stone para o National Geographic ressaltou, uma onda de calor que assolou o oeste dos Estados Unidos no ano passado elevou as temperaturas a 54 °C, a mais alta registrada em qualquer lugar do planeta desde 1931, e o terceiro dia mais quente da história.
E tudo indica que o calor aumentará e, em um futuro muito distante, a Terra pode atingir os 484 °C da superfície de Vênus. Isso porque os gases do efeito estufa na atmosfera e os quase 8 bilhões de humanos estão competindo pelos recursos naturais do planeta. Conforme o estudo de Spratt e Dunlop: “os impactos da mudança climática acelerada apresentam grandes consequências negativas para a humanidade que podem não ser desfeitas por séculos”.
Ponto de ruptura
Segundo os autores, haverá o colapso de muitos dos sistemas dos quais os humanos dependem devido às catástrofes climáticas, como secas severas, inundações, incêndios florestais e calor extremo. As migrações em massa de bilhares de pessoas para outras partes do mundo para fugir dessas condições desestabilizariam governos, culminando em um conflito armado por recursos — o que poderia levar ao inevitável: uma guerra nuclear.
O estudo de Spratt e Dunlop estima que até 2050 os ecossistemas, incluindo a Amazônia, o Ártico e os sistemas de recifes e corais dos oceanos podem entrar em colapso. O que muitas pessoas podem considerar bobagem ou algo extremo, os estudiosos pontuam que cientistas e governos insistem em minimizar a gravidade do caminho que a humanidade está trilhando.
Esse ponto de ruptura global também significaria o desabar da mente humana, que mergulharia ainda mais fundo em vários sistemas de crenças opostas para tentar dar sentido ao caos, ampliando cenários de destruição e guerras.
A esperança
Para os escritores, dez anos é o que nos separam desse cenário catastrófico, e eles alegam que estamos mal preparados para lidar com esse tipo de mudança climática se continuarmos seguindo o curso atual em relação às emissões globais de carbono.
O objetivo então, segundo os pesquisadores, é evitar a perspectiva de uma Terra amplamente inabitável, levando ao colapso das nações e da ordem internacional. O artigo também serve como carta de apelo aos atuais políticos, pedindo pela necessidade de uma mobilização emergencial de mão-de-obra e recursos em curto prazo em toda a sociedade, em uma escala sem precedentes em tempos de paz, para construir um sistema industrial de emissão zero e retirar o carbono para proteger a civilização humana.
No entanto, o que a atual pandemia tem mostrado é que estamos mais despreparados do que imaginamos, tanto como seres humanos quanto como mentalidade política. Ao que tudo indica, o que acabará com a humanidade serão o retrocesso, a desconfiança na ciência e a egolatria, visto que não acreditar no desmoronar climático do planeta está em alta. Você sabia que o Mega Curioso