Há um risco claro de que o espetáculo político esteja se tornando mais importante do que o conteúdo.
Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo, vem se destacando não apenas por suas ideias, mas principalmente por sua habilidade estratégica. Inspirado no livro “As 48 Leis do Poder”, best-seller sobre negócios e empreendedorismo, Marçal tem utilizado táticas que exploram as fraquezas de seus concorrentes, se sobressaindo nos debates com uma precisão impressionante. Contudo, fica a questão: será que essa abordagem é realmente benéfica para a cidade?
A estratégia de Marçal envolve uma forte conexão com os jovens, que atuam como seus “marketeiros” espontâneos. Esses apoiadores fazem cortes rápidos e eficientes de suas participações em entrevistas e debates, disseminando seu conteúdo nas redes sociais de forma viral. Essa distribuição gratuita e orgânica cria uma aura de inovação em torno do candidato, controlando a narrativa e posicionando-o como alguém à frente de seu tempo.
No entanto, essa mesma estratégia levanta dúvidas. Enquanto Marçal domina o jogo político e midiático, é importante perguntar: onde estão as discussões profundas sobre os problemas reais de São Paulo? Questões como a desigualdade crescente, o transporte público sobrecarregado, a falta de moradia e a crise na saúde pública parecem estar sendo deixadas em segundo plano.
Há um risco claro de que o espetáculo político esteja se tornando mais importante do que o conteúdo. Marçal chega aos debates preparado, articulado e com respostas rápidas — mas será que, ao focar tanto em sua habilidade de se destacar estrategicamente, ele não está deixando de lado o que realmente importa? A população de São Paulo precisa de soluções concretas, não apenas de um candidato que sabe como vencer em debates.
Estratégia, claro, faz parte da política. Mas até que ponto a estratégia deve se sobrepor à essência? Marçal pode estar jogando de forma inteligente, mas a pergunta que devemos fazer é: estamos discutindo São Paulo e seus desafios reais ou apenas assistindo a um espetáculo bem orquestrado?
O tempo dirá se esse foco excessivo em táticas de poder levará a soluções reais para os problemas da cidade ou se, ao final, essa estratégia não passará de uma distração que nos faz esquecer o essencial — as pessoas e seus desafios cotidianos.
Ana Barros é jornalista em Cuiabá