O governo, no entanto, ainda insiste em responsabilizar a gestão anterior, alegando uma “herança” que impede mudanças bruscas.
Editorial do Estadão expõe o que o povo já entendeu há tempos: a culpa pelos juros altos não está mais em Brasília, mas dentro do próprio Planalto. Em texto publicado nesta sexta-feira (21), o jornal reconhece que, mesmo com a troca de comando no Banco Central, o governo Lula continua culpando o antigo presidente da instituição, Roberto Campos Neto, para fugir de sua responsabilidade.
No cargo desde a saída de Campos Neto, Gabriel Galípolo foi chamado de “menino de ouro” por Lula, mas não mudou a rota do Copom. Ao contrário, deu continuidade ao aumento da Selic, agora em 14,25% ao ano – maior patamar desde 2016. A decisão teve apoio unânime do comitê, o que desmente a tese petista de que os juros altos eram fruto de uma suposta perseguição política do ex-presidente do BC.
A ministra Gleisi Hoffmann, que antes chamava Campos Neto de “terrorista econômico”, desta vez se calou. O silêncio, como aponta o Estadão, fala mais alto do que qualquer discurso. Agora que o comando do BC está com um nome escolhido por Lula, a narrativa do bode expiatório começa a ruir. O governo, no entanto, ainda insiste em responsabilizar a gestão anterior, alegando uma “herança” que impede mudanças bruscas.
A realidade é que o cenário inflacionário continua preocupante. Mesmo com uma leve queda na projeção para os próximos 12 meses – de 4% para 3,9% –, os números ainda estão acima da meta. O Copom alerta para uma inflação persistente, núcleos inflacionários elevados e um mercado de trabalho forte, que pressiona o consumo e dificulta a queda da taxa básica de juros.
A pressão cambial também entra na conta. A cotação do dólar usada como base no relatório caiu de R$ 6,00 para R$ 5,80, o que ajudou a conter parte do avanço inflacionário. Mas os investidores já projetam uma Selic em até 15% ao ano, sinal de que o alívio não virá tão cedo. O governo, por sua vez, segue inflamando a economia com medidas populistas que empurram a demanda e agravam o problema.
Na prática, o Planalto continua buscando culpados ao invés de reconhecer seus erros. A estratégia de jogar a responsabilidade no colo de Campos Neto só deve durar até a próxima reunião do Copom, marcada para os dias 6 e 7 de maio. Depois disso, será impossível ignorar que a condução da política monetária está nas mãos do próprio governo.
Como bem resumiu o Estadão, se o Executivo colaborasse, os juros já poderiam estar mais baixos. Mas entre o populismo eleitoral e a responsabilidade fiscal, Lula escolheu a primeira opção – e quem paga a conta, como sempre, é o brasileiro.
