O ministro de Interior da Espanha, Alfredo Perez Rubalcaba, afirmou nesta segunda-feira que o governo não pode confiar no anúncio de cessar-fogo anunciado na véspera pelo grupo separatista terrorista basco ETA, descartou um diálogo e alertou que as operações policiais contra seus membros continuam.
O ETA anunciou um cessar-fogo neste domingo, em um vídeo recebido com desconfiança pela Espanha. Três homens encapuzados dizem que a decisão de não levar adiante as ações armadas já estava tomada havia vários meses e prometem pôr em prática um processo democrático que leve à independência do País Basco, região que reúne partes de Espanha e França. Em nenhum momento fica claro se será um cessar-fogo permanente.
Rubalcaba disse que o anúncio do cessar-fogo pode ser uma tentativa do ETA de legitimar seu braço político Batasuna para as eleições municipais de 2011. Para que isso aconteça, afirma o ministro, Batasuna precisa romper com o ETA ou forçar o grupo a abandonar as armas.
Ele afirmou ainda que o Ministério de Interior “manterá intacta sua política antiterrorismo” e que não haverá negociação. “ETA mata para impor e, portanto, não se pode dialogar. E por isso o Estado vai dizer uma vez e outra vez não, não, não.”
Fundado há 51 anos, o grupo já foi autor de mais de 850 assassinatos em sua campanha armada para fundar um Estado independente na região basca. O novo cessar-fogo foi anunciado depois de mais de um ano sem atentados com mortes, e com o grupo fragilizado. Desde 2007, mais de 400 membros foram presos -68 deles neste ano.
“O anúncio claramente visa a esconder sua fraqueza, porque se eles não esconderem sua fraqueza, o pedido dentro de sua própria base de apoio para que se desarmem vai aumentar”, disse o ministro.
ETA já rompeu cessar-fogo várias vezes no passado, o mais recente deles em 2006, quando uma trégua foi encerrada com um ataque a bomba no aeroporto de Madri. Os anúncios anteriores de cessar-fogo do grupo foram vistos por analistas como tentativas do ETA de ganhar tempo para se reorganizar e lançar mais ataques.
“Parece mais como uma pausa para pegar ar de duração indeterminada do que alguma coisa que indique preparo real para se engajar em um processo de paz”, disse Francois Heisbourg da Foundation for Strategic Research, em Paris (França).
É o 11º anúncio de cessar-fogo do grupo terrorista, mas há motivos para crer que esse pode durar mais tempo. O grupo está bastante debilitado, com seus principais líderes presos e a capacidade de organizar ataques, reduzida. Há pressão cada vez maior entre os bascos para que adote a via política.
Rubalcaba disse, contudo, que o termo trégua está morto nas negociações com o ETA, já que três tentativas anteriores foram rompidas pelo grupo basco.
COMUNICADO
Na gravação, o grupo sustenta que a decisão foi tomada há vários meses a fim de “iniciar um processo democrático”. Por enquanto não está claro se esta última declaração do ETA é um cessar-fogo permanente ou temporário.
Nas imagens obtidas pela “BBC” é possível ver três membros encapuzados do grupo sentados em uma mesa com uma bandeira da organização ao fundo. Um deles aparece sentado no meio lendo a declaração, finalizada com a afirmação de que o grupo quer alcançar seus objetivos por meios pacíficos e democráticos.
Em trechos do vídeo, o ETA assinala que o preço de sua difícil luta foi a sobrevivência do País Basco, mas afirma que pagou um preço alto, “com torturas, prisão, exílio e morte”.
“O ETA confirma seu compromisso de encontrar uma solução democrática ao conflito. Em seu compromisso com um processo democrático para decidir livremente e de maneira democrática nosso futuro, através do diálogo e de negociações, o ETA está preparado hoje para acordar as condições democráticas mínimas necessárias para iniciar um processo democrático, se assim tiver vontade o governo espanhol”, afirma a organização.
O grupo pede aos ativistas políticos bascos que atuem com responsabilidade, afirmando que é necessário dar passos firmes para alcançar o processo democrático. “Porque a porta para uma solução real do conflito ficará aberta quando os direitos do País Basco forem reconhecidos e ratificados”, indica o comunicado.
No passado, o ETA –responsável por mais de 820 mortes em sua campanha de violência em 40 anos– declarou duas tréguas, mas ambas foram posteriormente levantadas.
O governo espanhol já tinha indicado que só negociaria com o grupo basco se este renunciasse à violência. A cúpula do Ministério do Interior da Espanha afirmou que está analisando o comunicado.
F.Com