Quando a situação é limite, a coisa fica preta. Delinqüentes de toda espécie
formam listas negras. Alguém desagradável chega e fecha o tempo.
Por outro lado, uma orientação em boa hora clareia o pensamento. A mulher dá
luz ao bebê. Os esclarecidos são inteligentes.
No mundo racista, preto, negro e escuro significa ruim, inferior, pior.
Em todas as sociedade escravagistas, como no Brasil, essa ideologia perpassa
a vida das pessoas, muitas vezes sem que elas percebam. É o inconsciente
coletivo. Nos detalhes, inclusive lingüísticos, perpetua-se o julgo de uma
raça sobre outra, como se houvesse mais que apenas uma, a humana.
A maioria das crianças brasileiras que morrem por doenças tratáveis é negra.
Parturientes negras morrem mais do que as brancas. A maioria dos
empobrecidos nas favelas é negra. Nos presídios, purgam os negros e negras,
maioria nas celas. Entre os que estão fora da escola, persistem os negros. A
maioria dos trabalhadores na informalidade, sem direitos trabalhistas, é
negra. Se isso não for apartheid racial…
Fala-se hoje sobre o bullying, que é o assédio psicológico e físico
insistente na escola, e que gera alto nível de estresse e sofrimento à
criança. O racismo é o bullying mais antigo. Já existia quando ainda não se
falava nisso, nem se falava em racismo, nem em nada disso.
O fato de não ser preto não isenta ninguém de refletir sobre racismo. Devem
refletir sobre isso todas as pessoas de bem, em todo lugar do planeta. Não é
só no Brasil que isso acontece. O racismo é um problema internacional. E não
apenas de negros.
O dia da consciência negra, no Brasil, é 20 de novembro, quando morreu
Zumbi, herói brasileiro. Hora de lembrar que as coisas, situações e pessoas
pretas e brancas são boas e ruins.
E tem tanta coisa linda preta. A noite escancarada, o mistério da madrugada,
olhos como jabuticabas, a amora adocicada. O pelo da pantera. Esse povo
brasileiro…
Essas coisas tão nossas, tão belas!
** Keka Werneck é jornalista em Cuiabá.*