quinta-feira, 21/11/2024
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Enviado brasileiro da ONU visita maior prisão de Mianmá

O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, enviado especial da ONU para questões de direitos humanos, visitou, nesta segunda-feira, a principal prisão de Yangon, a Insein, e outros lugares onde são mantidos ativistas detidos durante as manifestações pró-democracia em setembro.

Uma nota divulgada pela ONU em Yangon não deu detalhes da visita, mas um diplomata havia dito anteriormente que Pinheiro tentaria encontrar Min Ko Naing e Ko Ko Gyi, dois líderes dos protestos de agosto contra o aumento dos combustíveis, supostamente presos em Insein.

“Ele espera entrevistar os detentos antes do final da sua missão e receber novos detalhes sobre seus prontuários”, disse a nota. Pinheiro deixa Mianmá na quinta-feira.

Pinheiro, que é professor de Direito, faz sua primeira visita à antiga Birmânia em quatro anos. Ele também visitou o antigo Colégio Técnico do governo e a sede da polícia, onde também são mantidos presos capturados durante as manifestações deste ano, as maiores nos últimos 20 anos.

O brasileiro encontrou também os superiores do Comitê Estatal Sangha Maha Nayaka, órgão estatal que controla o clero budista, e visitou dois monastérios “envolvidos nas manifestações recentes”.

A imprensa oficial diz que 2.927 pessoas foram presas durante aqueles dias. Centenas de monges budistas estão entre os detidos.

Oficialmente, houve dez mortos nas manifestações, mas os jornais do governo dizem que não houve vítimas fatais entre os monges. Religiosos dizem, porém, que cinco monges foram assassinados durante as invasões dos mosteiros.

Apareceram na internet várias fotos que supostamente mostram monges mortos e mutilados, embora seja impossível saber quando e onde elas foram tiradas.

A imprensa oficial diz que só restam 91 manifestantes detidos, cifra que Pinheiro deve investigar minuciosamente, assim como o número de mortos. Governos ocidentais desconfiam que tenha havido muito mais vítimas fatais.

Parentes de presos políticos, vários dos quais participaram da outra grande onda de manifestações contra o regime, em 1988, dizem que as condições na penitenciária Insein melhoraram às vésperas da visita de Pinheiro.

“Fomos autorizados a mandar coisas para eles. Tivemos uma chance de saber sobre seu estado de saúde. É a primeira vez desde que eles foram presos, em agosto”, disse um parente de manifestante à Reuters.

Não se sabe se Pinheiro efetivamente conseguiu acesso às pessoas que queria ver na prisão. Na terça-feira, ele viaja a Naypyidaw, a nova capital construída pela Junta Militar no meio da selva.

No passado, Pinheiro tinha acesso a todos os presos políticos que desejasse. Mas, há quatro anos, saiu correndo de uma conversa com um detento em Insein ao descobrir que havia um gravador escondido sob a mesa.

Antes da repressão de setembro, a Anistia Internacional estimava que a Junta conservasse cerca de mil presos políticos, inclusive a líder oposicionista Aun San Suu Kyi, mantida sob prisão domiciliar durante 12 dos últimos 18 anos.

Na segunda-feira, outro enviado da ONU, Ibrahim Gambari, relatou por telefone ao secretário-geral Ban Ki-Moon sobre sua visita da semana passada a Mianmá. Ainda nesta semana, ele deve transmitir suas impressões ao Conselho de Segurança.

Entenda a crise em Mianmá

Os protestos pacíficos começaram em agosto por causa dos aumentos absurdos no preço do combustível e se tornaram realmente ameaçadores para a Junta Militar quando os reverenciados monges budistas se uniram. A crescente multidão ganhou voz para expressar descontentamentos e o governo reagiu violentamente.

No dia 26 de setembro, a Junta Militar deu início a uma violenta repressão em que pelo menos 10 pessoas morreram, entre elas dois estrangeiros, de acordo com dados oficiais. O número pode ser muito maior uma vez que há diversos relatos não oficiais que apontam mais de 200 mortes.

Mianmá é governada por generais há 45 anos e não tem eleições democráticas desde 1990, quando o partido oficial perdeu para a Liga Nacional para a Democracia, que obteve 82% dos votos, mas o governo nunca aceitou o resultado, colocando a líder do partido de oposição, Suu Kiy, sob prisão domiciliar por 12 dos últimos 18 anos.

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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