Foram mais de 140 mm de precipitação pluviométrica, uma tromba d”água com intensidade maior do que a anterior, da ordem de 62mm que atingiu Cuiabá duas semanas atrás.
Na primeira, o bairro mais atingido foi o São Matheus e as casas vizinhas ao córrego do Gambá, que ficaram alagadas. Em poucos dias a Prefeitura retirou mais de 85 toneladas de lixo que contribuíram para o represamento das águas; desta vez, o fenômeno se repetiu, mas com outras causas, um volume d”água bem maior – mais que o dobro – que provocou estragos em outras partes da cidade.
Uma das constatações foi o “afogamento” da foz dos dois córregos pelo súbito aumento do volume do Rio Cuiabá que impediu o escoamento das águas que ultrapassaram as margens, destruíram aterros, o tratamento do canal e transbordaram em vários pontos, numa proporção jamais vista antes.
Os engenheiros da Universidade Federal de Mato Grosso e do departamento de obras da Secretaria Municipal de Infra-estrutura fizeram uma inspeção nos locais e travaram uma discussão técnica na sede da Secretaria, atendendo a uma recomendação do prefeito Wilson Santos, preocupado com os estragos provocados pela chuva, em particular o Bairro São Matheus, cortado pelo Córrego do Gambá.
O engº Rubens Mauro abriu a reunião com uma planilha demonstrando o volume crescente das precipitações em Cuiabá, no mês de janeiro, tendentes a ultrapassar os 1.500 mm, agravadas pela concentração em curtos períodos. “São conseqüências do “efeito estufa”” disse o engenheiro; “basta ver o que está acontecendo em outras partes do Brasil, particularmente na região Sudeste e o que vem ocorrendo em outros países, um claro sinal de que a exploração de recursos naturais e sua utilização nos limites em que ocorrem já sugerem o comprometimento da sustentabilidade”, pontuou.
Ainda manejando tabelas, o engenheiro acrescentou que o planeta já exibe indicativos claros de alterações climáticas provocadas pelo “efeito estufa”, decorrente do aumento de dióxido de carbono na atmosfera e enfatizou que os parâmetros de construção e de obras públicas em breve deverão ser revistos pela ultrapassagem dos níveis de riscos.
O diretor de obras públicas, Orozimbo Guerra Neto, que também participou da reunião e da inspeção, juntamente com o corpo técnico da Secretaria Municipal de Infra-estrutura, comprometeu-se a levantar a memória de cálculo das obras de transposição do córrego do Gambá, sob a avenida Beira Rio, para que os estudos de vazão sejam conferidos.
O engº Rubens Mauro, da UFMT, aproveitou para levantar questões relativas à ocupação do solo nas vizinhanças do córrego do Gambá, com inúmeras construções irregulares e em áreas de risco bastante evidentes, fato que acontece em vários outros locais da cidade, como decorrência da ocupação desordenada do espaço urbano e que atravessou diversas administrações.
O vereador Chico 2.000, que participou ativamente da reunião, municiado de fotografias antigas e recentes da região do córrego do Gambá, junto à foz, prometeu acompanhar as discussões técnicas para, em momento próprio, apresentar um relatório à Câmara Municipal e, se necessário, apontar sugestões ao Executivo Municipal visando sanar eventuais problemas para que esses fatos não continuem acontecendo destacando o estado permanente de sobressalto das famílias ao menor sinal de chuva.