Há 470 anos, o rei Henrique VIII da Inglaterra viajava na superfície do rio Tâmisa, a cavalo. Diz a lenda que o monarca foi puxado do centro de Londres até Greenwich em um trenó sobre a superfície congelada do rio, que virou gelo de uma margem a outra por causa do frio intenso.
As famosas Frost Fairs londrinas, em que os carnavais são ocasionalmente celebrados sobre o rio congelado, foram uma marca registrada da “Mini Era Glacial”, que atingiu o noroeste da Europa entre 1200 e 1850.
Um novo estudo, que será publicado na edição de quinta-feira da revista científica britânica Nature, explica porque este fenômeno ocorreu.
O artigo põe a culpa no enfraquecimento da Corrente do Golfo, a corrente que leva água quente do Atlântico tropical até a costa da Europa ocidental, levando aos países da região temperaturas agradáveis mesmo estando na mesma latitude do gelado Labrador.
As evidências estão presentes em sedimentos da região onde a Corrente do Golfo entra no Atlântico Norte, denominada Estreito da Flórida.
Os núcleos sedimentares contém espécies calcificadas de plâncton denominado foraminifera, cuja presença é detectável por níveis do isótopo oxigênio 18.
Este isótopo, ao contrário, depende da salinidade e da temperatura da água do mar, que por sua vez indica sua densidade e, portanto, seu fluxo.
Segundo o estudo, chefiado por David Lund, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), durante a mini Era Glacial, o fluxo da Corrente do Golfo era 10% mais baixa em volume do que é hoje.
Um ano antes, um artigo também publicado na Nature por oceanógrafos da Universidade de Southampton, na Grã-Bretanha, demonstrou que um importante ramo do sistema da Corrente do Golfo, a Corrente do Atlântico Norte, perdeu 30% de seu fluxo desde 1998.