A nova onda de barreiras às importações impostas pela equipe do ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, em janeiro, gera pressões dos industriais brasileiros sobre o governo da presidente Dilma Rousseff.
Uma parcela cada vez maior de empresários exige em Brasília a imediata adoção de represálias. Outros sugerem medidas mais negociadoras, mas compartilham um diagnóstico "pessimista" sobre a economia da Argentina.
Alguns motivos explicam que Brasília tenha optado por evitar uma posição explícita sobre o novo conflito.
A partir da mudança no Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, com a saída de Fernando Pimentel e a chegada de Mauro Borges, Dilma deve resolver a estratégia que usará, se uma confrontação ou uma busca de alternativas.
Muitos são os setores industriais brasileiros que ventilam suas queixas. Destacam-se autopeças, químicos, calçados e têxteis.
Os fabricantes de máquinas disseram que a exportação envios para Buenos Aires cairá pelo menos 10%.
Esses cálculos revelam também que está em curso uma sensível diminuição dos investimentos diretos no país e um estancamento da atividade econômica.
Calçados
As fábricas de sapatos do Brasil, representadas pela Abicalçados, são as mais radicais. Denunciaram que há mais de 700 mil pares de calçados que aguardam para obter as DJAI (declarações juradas antecipadas de importação) para entrar na Argentina.
Esse segmento defende represálias contra o governo de Cristina Kirchner.
A Argentina tinha flexibilizado a concessão das DJAI no ano passado para as empresas brasileiras, mas as restrições recrudesceram pela falta de dólares.
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção já admite que neste ano as vendas serão muito menores que em 2013: falam de uma queda de 30% em janeiro, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Questionam, também, as demoras em receber as DJAI.
A posição dos dirigentes, neste caso, é menos virulenta. Consideram que existe margem para o diálogo.
Eles mencionam, por exemplo, a possibilidade de obter linhas de crédito especiais para financiar seus importadores argentinos, uma ideia que chegou até o Ministério da Indústria, mas ficou em suspenso devido à mudança de ministro.
Os meios empresariais brasileiros não ocultam o temor gerado pela recente desvalorização do peso. E não só porque afeta os negócios atuais.
Começa a se instalar a convicção de um suposto efeito contágio, que poderia influenciar negativamente a economia brasileira.
Isso explica, em grande medida, o silêncio de Dilma quando se trata da Argentina. A presidente tem pela frente um ano complexo: a Copa em junho e as eleições presidenciais em outubro, onde está em jogo sua reeleição. As turbulências argentinas não a ajudam.