As críticas de reservistas das Forças Armadas de Israel contra o comando militar do país seguem multiplicando-se nesta segunda-feira, com a publicação de uma carta aberta em que os soldados denunciam terem sido impedidos de conseguir uma vitória contra a milícia xiita libanesa Hezbollah.
A acusação foi feita por centenas de reservistas da divisão de infantaria “Cabeça de seta”, que assim se manifestaram em carta enviada ao ministro da Defesa, Amir Peretz, e ao chefe das Forças Armadas, general Dan Halutz, e publicada pelo jornal Maariv.
Os protestos acontecem principalmente pela “confusão nas ordens” de seus superiores, pela “indecisão” e mudança freqüente de missões em plena batalha e até pelos erros no fornecimento de alimentos e água para as tropas, formando o centro da polêmica existente há uma semana, desde a entrada em vigor do cessar-fogo com o Hezbollah.
Peretz designou uma comissão de generais da reserva e um representante do setor civil para revisar as queixas e os erros, mas as crescentes denúncias podem obrigar o primeiro-ministro Ehud Olmert a solicitar uma investigação judicial.
Investigações deste tipo, que em uma etapa mais avançada podem resultaram na abertura de processo contra os responsáveis pelos erros, já ocorreram por causa de protestos similares após a “Guerra de Iom Kipur” ou do “Ramadã”, de 1973, e do massacre, em 1982, de centenas de palestinos por falangistas cristãos do Líbano nos campos de Sabra e Shatila, então sob controle do Exército israelense.
Governo em crise
Sob a pressão da opinião pública e da imprensa, assim como dos partidos da direita na oposição parlamentar, Olmert solicitou ao assessor jurídico do Poder Executivo, Menachem Mazuz, que exponha as atribuições que tem para investigar os erros.
Um das principais preocupações nos meios militares e políticos é “a fenda” que foi aberta na confiança dos soldados em relação a seus comandantes, destacou o médico e brigadeiro general da reserva Efraim Sne, deputado do Governo.
Sne foi um dos milhares de reservistas convocados quase de última hora, dias antes da proclamação do cessar-fogo, no último dia 14, para afastar os guerrilheiros do Hezbollah da fronteira entre Líbano e Israel. Em entrevista à rádio pública, o reservista disse que a fenda aconteceu principalmente por causa da “indecisão das autoridades militares para iniciar as operações por terra” contra o Hezbollah.
A comissão, que iniciou a investigação no sábado sob a Presidência do general reformado Amnon Lipkin-Shajak, só poderá expor seu julgamento sobre a atuação dos chefes e recomendar a correção dos erros.
Uma comissão judicial de investigação, a cargo do presidente da Suprema Corte poderia gerar processos contra oficiais das Forças Armadas, o que significaria que os responsáveis pelos erros deveriam contratar advogados para sua defesa.
“Será investigado tudo e todos, pois não temos nada para esconder”, afirmou o general Halutz, que se opõe a uma investigação judicial desse tipo, pois paralisaria as Forças Armadas.
Os contrários a uma investigação judicial alegam que com o risco de um “possível segundo turno” dos conflitos com o Hezbollah, segundo previu neste domingo na reunião do governo o ministro da Defesa Peretz, não seria apropriado que os chefes militares tenham de ocupar-se com suas defesas.