Nos próximos cinco anos, 50% do contingente de professores efetivos da rede de ensino de Mato Grosso estará apto a se aposentar. O que parece ser normal é motivo de preocupação para o Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público (Sintep), que utiliza como parâmetro dados de acesso à carreira antes e a partir do concurso de 1992. O percentual sobe para 75% até 2015.
“Existe uma espécie de “fuga de capital humano” da Educação. A profissão não tem sido atrativa por causa dos baixos salários e das condições de trabalho. Muitos estão deixando a Educação e mesmo os que se formam não querem exercer a função”, afirmou o presidente do Sintep, Gilmar Soares Ferreira. Segundo o sindicato, atualmente o Estado conta com 11 mil professores efetivos. O salário inicial é de R$ 1.084,97, podendo chegar ao final da carreira a R$ 1.725.
De acordo com Gilmar Ferreira, 80% dos que estariam aptos a se aposentar nesse período são mulheres. Pela legislação, as educadoras podem se aposentar com 25 anos de contribuição e 50 anos de idade e os educadores, com 30 anos de contribuição e 55 de idade. “Todos que entraram no concurso de 92 ou anteriormente terão garantido na carreira as condições para se aposentar nos próximos cinco anos”, reforçou, lembrando que os profissionais que exercem a função desde antes de 1988 podem pedir a aposentadoria voluntária.
A falta de profissionais, segundo Gilmar Ferreira, é mais latente em algumas áreas como Química e Física. Um dos motivos é que não há um contingente significativo que se forma nessas áreas. E até por isso há uma carência desses profissionais em outros ramos do mercado de trabalho que valoriza e remunera melhor o profissional. “A maioria não quer trabalhar com a Educação. Isso sem falar que a escola não tem laboratórios adequados e falta infra-estrutura. As condições de ensino não oferecem atrativos para o profissional”, afirmou.
Além disso, Gilmar Ferreira garante que muitos professores, devido às condições de trabalho ruins e a falta de motivação, têm pedido a aposentadoria mais cedo.
Ele também aponta que há outros problemas que levam os profissionais à aposentadoria precoce. “São as doenças decorrentes da profissão, principalmente, a Síndrome de Burnout”.
Segundo Gilmar Ferreira, uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores feita pela Universidade Federal de Brasília, em 1997, aponta que devido às péssimas condições de trabalho o professor com cinco anos de trabalho já manifesta a síndrome, definida como uma das conseqüências mais marcantes do estresse profissional e se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo e depressão.
“Isso tem levado à depressão, ao estresse e muitos profissionais têm buscado a aposentadoria precoce”, afirmou. Além disso, há muitos educadores em desvio de função por causa de problemas como distúrbios da fala, surdez ou mesmo câncer da faringe ou laringe.
Fatos como esses apontam outro problema, conforme Gilmar Ferreira. “Ao mesmo tempo em que há muitos profissionais se aposentando, o Governo do Estado não realiza concurso público e apenas contrata temporiamente”. “A não realização de concurso público significa o aprofundamento da precariedade das condições de ensino”. Segundo o presidente do Sintep, o último concurso realizado pelo Estado para a Educação foi em 2001/2.
Qual a solução? “Tem que haver uma política de valorização e de formação dos professores”, enfatizou Gilmar Ferreira.
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