Dilma Rousseff terá um grande desafio durante a primeira reunião ministerial de seu governo, às 14 horas desta sexta-feira, em Brasília. Sentada na cadeira principal da sala de reuniões do Palácio do Planalto, a presidente passará um recado claro aos 37 ministros que estarão presentes: é hora de apertar os cintos, pois os cortes no Orçamento são inevitáveis.
Até o momento, economistas admitem que, no mínimo, 40 bilhões de reais devem ser enxugados da máquina pública. Os ministros precisarão de fôlego para começar um novo governo com menos dinheiro do que no ano passado e será função da presidente alertá-los sobre essa missão: fazer mais, com muito menos. A presidente quer imprimir um estilo mais empresarial ao setor público, o que, em outras palavras, significa aumentar sua eficiência.
Para isso, exigirá que os ministros fixem e cumpram metas de redução de custos e aumento das realizações. E é conhecido o estilo Dilma, muitas vezes ‘truculento’, de exigir resultados. A presidente deve sugerir cortes em gastos como transporte, verba de gabinete, gasolina, entre outros, mas deixará que cada pasta proponha a redução como preferir, contanto que esteja dentro da meta: manter o superávit primário em 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB).
Após a apresentação de aproximadamente dez minutos da presidente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, será o responsável por fazer uma exposição extensa sobre a conjuntura econômica no Brasil e no mundo. Sobre o país, os principais pontos serão o combate à inflação e a deterioração das contas do governo. Quanto ao setor externo, o foco recairá nas consequências que a economia internacional pode trazer para o país. A explanação não contará, segundo fontes do Planalto e da Fazenda, com a discussão de medidas práticas, mas, a pedido de Dilma, deverá esclarecer a necessidade de cortar os gastos da máquina pública para que a economia brasileira se mantenha nos eixos.
Durante a exposição, o ministro da Fazenda deverá falar sobre o bom momento da economia brasileira, com a renda em expansão e o mercado interno positivo. Entretanto, não deixará de fora o fato de esse governo começar já com alguns desafios impostos pelos últimos anos de governo Lula, que aumentou os gastos da máquina pública em ritmo superior ao da arrecadação, o que afetou diretamente o resultado fiscal. Com a inflação batendo à porta, os juros só poderão cair, dirá Mantega, com a colaboração do governo, o que significa cortar o orçamento de cada pasta.
Preocupações – No que diz respeito ao mercado externo, o ministro falará sobre a crise na Europa; a desvalorização da moeda americana – impulsionada por políticas do governo Obama de injetar dólares na economia –; a resistência da China em depreciar o yuan; e a alta dos preços internacionais dos alimentos – dos quais o Brasil é um dos principais exportadores – que pode, de muitas maneiras, prejudicar a economia do país.
Os analistas argumentam que há pouco a ser feito para blindar por completo o país num cenário de deterioração da economia mundial. Os ajustes necessários são de longo prazo e de natureza estrutural, a começar pelo corte de privilégios e enxugamento dos gastos – pontos que Dilma frisará na reunião. Em resumo, de uma maneira ou outra, a necessidade de contingenciar o Orçamento e melhorar a eficiência dos gastos perpassa todas as discussões.
Não está descartada, contudo, a discussão do uso de novos instrumentos de controle cambial, haja vista que muitos países têm adotado medidas semelhantes e é notório impacto que os importados, mais competitivos com o real super valorizado, têm imposto à indústria brasileira. Dilma tem dado sinais de que vai monitorar de perto essas questões, adotando seguidas medidas em adequação permanente ao cenário externo.
Discurso orquestrado – A tarefa de promover ajustes na economia brasileira é árdua. Dilma e Mantega sabem disso. Na semana que precedeu a reunião, os encontros entre os dois foram quase que diários. Dilma dará as orientações gerais à equipe com o objetivo de unificar o discurso para os quatro anos de governo – um primeiro contato, é claro, mas já com diretrizes para os ministérios, inclusive no que diz respeito à ética. e dirá que os investimentos nos programas sociais e de infraestrutura, como o Bolsa Família e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), continuarão a todo o vapor.
Fonte Abril