quinta-feira, 21/11/2024
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Elis Regina morreu de overdose

Não tem novidade nenhuma nisso. Morreu Elis Regina, aos 36 anos, dia 19 de
janeiro de 1982, de overdose. Ela misturou cocaína, tranqüilizantes e
whisky.

Há riquezas que não encontramos duas vezes, são ímpares. Há 29 anos, o
Brasil perdia, para as drogas, a cantora insubstituível.

Tentaram reeditar Elis, através da filha dela, Maria Rita. Mas não tem como,
não deu certo. Maria Rita é uma construção do mercado fonográfico, uma
artista comum, que tem até seus méritos. Mas a mãe dela sim era a força, a
emoção, a alma e a voz em pessoa.

Depois de Elis, vieram outras intérpretes brasileiras; não veio ninguém.

O enterro de Elis moveu uma multidão de fãs, que na hora do sepultamento
cantava, entre outras trilhas, a seguinte marchinha de carnaval: “Quem parte
leva saudades de alguém que fica chorando de dor. Por isso eu não quero
lembrar quando partiu meu grande amor. Ai, ai, ai ai, ai ai ai, está
chegando a hora. O dia já vem raiando, meu bem, eu tenho que ir embora”.
Emocionante!

Os pais de Elis, seo Romeu e dona Ercy, passaram a noite toda no teatro
Bandeirantes, em São Paulo, onde foi o velório. Um repórter da Rede Globo,
do Jornal Hoje, em um daqueles momentos “brilhantes”, perguntou a eles como
estavam vendo aquela demonstração de amor pela filha? Não conseguiram
responder quase nada. “É uma satisfação para gente”, sussurou o pai da
cantora, com a voz embargada, encolhido em dor como uma criança ferida. O
repórter, não satisfeito, insistiu. “É realmente uma demonstração de muito
amor, não é dona Ercy?”. A mãe, em um suspiro agoniante, resumiu: “É…”

A pimentinha, apelido que ganhou de Vinicius de Moraes, criticava
publicamente a ditadura militar nos anos de chumbo. Foi ela que imortalizou
o hino da anistia, “O Bêbado e o Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc.
Em cenas históricas, ao som dessa música, a gente viu muitos voltarem do
exílio, tal qual Betinho, o irmão do Henfil, como diz a letra.

Para quem não sabe, Elis foi presidente da Assim, Associação de Intérpretes
e de Músicos.

A interpretação visceral de Elis comovia os corações mais duros. Despertava
paixões, tórridas, perdidas…

As novas gerações talvez ignorem tudo isso…

A morte costuma fazer isso com a gente, mesmo com estrelas dessa
intensidade. É um manto que cobre sentimentos, a mão que leva para um lugar
longe. Passados os anos, a gente vira só um retrato na parede, ou em um
álbum, ou apenas uma saudade familiar, um destaque eventual no
obituário…Quem sabe uma matéria por ano…

Pensei em falar um pouco de Elis, para que ela de alguma forma reviva.
Pensei também em talvez fazer um alerta para o risco da overdose.

* Keka Werneck é jornalista em Cuiabá

Keka Werneck
MTb-MT 610

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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