Ela se mandou para a Califórnia. Foi fazer um curso de cinema e andar nua pelo deserto.
Ela estava quieta, deixando a janela aberta para os cabelos ficarem ao vento. Botei aquelas músicas clássicas americanas de estrada, que ela não conhecia. Bruce Springsteen, Paul Simon, The Indigo Girls. Ela tomava chá gelado do Starbucks e me contava as histórias dos boys magia, do surfista brasileiro – os olhos dela brilhavam.
Levei Thainá para conhecer os dinossauros de Cabazón, onde meu pai me levava quando eu era criança: um T-rex e um braquiossauro em tamanho real, perdidos do lado da estrada no caminho de Palm Springs. Almoçamos comida vegana com limonada de lavanda. O GPS parou de funcionar, e a gente se perdeu. Fomos até o deserto de Joshua Tree, que ficou famoso pela foto da capa do disco do U2 e pelos hippies que tomam baldes de ácido embaixo das árvores. Ela rolou na areia, deu cambalhotas nuas, abrindo a pele para o vento.
Ela tremia de vontade. Eu, de felicidade. Nós, vibrando, na terra onde eu nasci – e que ela escolheu para viver. Outro dia ela me mandou uma mensagem. Nela, dizia: “Eu vim para cá pra me descobrir, e descobri que a Thainá gosta é de chinelo, short e camiseta”. Eu acrescentaria que ela também gosta de ficar nua no deserto, de ficar no banco traseiro do carro com os cabelos mordidos pelo vento, de se esfregar no chão desconhecido, se abrir para o infinito, deixar o coração na palma da mão, e tudo isso dizendo: estou aqui.
Fonte:TRIP