O chanceler Celso Amorim descartou nesta terça-feira a possibilidade de que o acordo fechado entre Brasil, Turquia e Irã prejudique a credibilidade do programa nuclear nacional ou a imagem de neutralidade do país.
“Se alguém quiser usar isso como pretexto para criar problemas para o programa nuclear brasileiro, será isso: pretexto. E não creio que ninguém vá usar, porque até o presidente Bush (ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush) chegou a dizer que há confiança no Brasil”, declarou o ministro durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Ele acrescentou que o episódio não acaba com a neutralidade do país em relação ao tema. “Pelo contrário. O Brasil reafirmou a sua neutralidade ao não estar alinhado a ninguém e estar alinhado a apenas a objetivos pacíficos”, argumentou.
Segundo o chanceler, o Brasil e a Turquia conseguiram a assinatura de uma declaração que poderá levar o impasse a uma solução negociada. “O Brasil não fez nenhum acordo de cooperação na área nuclear com o Irã. Nada disso”, reforçou.
Amorim disse que Estados Unidos e outras potências ocidentais incentivaram o Brasil a buscar um acordo com o Irã. No entanto, comentou, sua percepção ao conversar depois com a secretária de Estado americana foi de que Hillary Clinton tinha uma postura de “não viu e não gostou” e de apenas desqualificar o que foi alcançado por Brasil e Turquia porque não havia expectativa de que o acordo seria fechado.
Brasil e Turquia fecharam no mês passado um pacto com a República Islâmica para a troca de urânio por combustível nuclear pronto para o uso com fins pacíficos. No entanto, potências nucleares lideradas pelos Estados Unidos mantiveram os esforços voltados à aprovação de novas sanções contra o país persa. Elas acusam o Irã de tentar buscar a fabricação de armas nucleares, o que o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad nega.
Sanções
Amorim reafirmou que o país respeitaria “meticulosamente” as sanções se elas forem aprovadas. Porém, disse esperar que nenhuma decisão sobre a imposição de sanções ao Irã seja tomada pelo Conselho de Segurança da ONU antes da reunião do G20, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve fazer uma defesa do acordo fechado por Brasil e Turquia com a República Islâmica. O encontro será realizado no Canadá neste mês.
“Seguramente o presidente Lula terá oportunidade na própria reunião ou à margem da reunião para tratar do tema”, afirmou o ministro a jornalistas depois de participar de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
“Eu espero que nenhuma decisão precipitada seja tomada até lá, até porque estou convencido de que a grande maioria dos membros do Conselho de Segurança, sobretudo os membros não-permanentes, estão no fundo pensando como nós. Só através de pressões ou de outros tipos de ação que será possível mudar a posição.”
“O acordo abarca todos os pontos principais que foram colocados em outubro. Surgiram pontos de dúvida depois da proposta? Muito bem. Mas o objetivo desse acordo é criar confiança”, comentou, referindo-se à crítica dos EUA de que o Irã mantém a disposição de enriquecer urânio a 20% e atualmente conta com um estoque de urânio maior do que o que detinha em outubro do ano passado.
Para ele, a não aplicação do acordo “seria uma grande decepção para o mundo e para todos aqueles que desejam e estão realmente convictos que é preciso uma solução pacífica.”
Com Reuters
Guilerme Barros