O dólar teve a maior queda diária em seis anos nesta sexta-feira, anulando a disparada da véspera com a atuação do Banco Central (BC) e o otimismo internacional por um plano dos Estados Unidos contra a crise financeira. A moeda americana terminou o dia vendida a R$ 1,830, com queda de 4,74%. É a maior queda percentual desde 1º de agosto de 2002.
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O mercado, porém, não conseguiu reverter completamente a alta acumulada na semana e ainda exibiu valorização de 2,75% em relação à sexta-feira passada – na última quinta-feira, o dólar chegou a ser cotado a R$ 1,96.
Segundo operadores, a disparada do dólar havia ocorrido pela escassez de crédito em moeda estrangeira após dias de incerteza no exterior e de especulação contra o real na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).
Os leilões de venda de dólares com compromisso de recompra, realizados pela primeira vez desde fevereiro de 2003, ajudaram a restaurar a liquidez. Foram feitos dois leilões nesta sexta-feira.
No primeiro, entre 11h30 e 12h, o Banco Central vendeu US$ 200 milhões de uma oferta total de US$ 500 milhões, com compromisso de recompra em 30 dias corridos. No segundo, entre 15h e 15h30, foram vendidos os US$ 300 milhões restantes.
Menos pressionado, o mercado pôde prestar atenção às notícias do exterior. “O mercado de câmbio está refletindo a melhora do cenário externo”, disse Gerson de Nobrega, gerente da tesouraria do Banco Alfa de Investimento.
A discussão de um plano abrangente contra a crise financeira, anunciada pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, fez as bolsas de valores dispararem e o risco Brasil mergulhar quase 60 pontos-básicos, para a faixa de 280 pontos.
Cautela
Em outros países emergentes, como México e África do Sul, as moedas locais também saltaram frente ao dólar. Mas a reação no Brasil foi mais forte que em outros lugares.
A BM&F chegou a ampliar o limite de variação do dólar futuro depois que a cotação do contrato para outubro atingiu o piso definido no início do dia.
Até quinta-feira, os estrangeiros exibiam quase US$ 7 bilhões em posições compradas em derivativos cambiais, o que equivale a uma aposta na alta do dólar diante do real. O sentimento, no entanto, é de cautela para a próxima semana.
Apesar de ver espaço para uma queda maior do dólar, Roberto Padovani, estrategista sênior de investimentos para a América Latina do banco WestLB do Brasil, avalia que a taxa de câmbio ainda “vai ter um prêmio de incerteza”.