O dólar voltou a registrar forte oscilação ante o real brasileiro nesta quarta-feira, 17, dando continuidade a um padrão verificado desde a última segunda-feira. Embora o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Ben Bernanke, também tenha tirado a força do dólar mais cedo em outras praças, o movimento foi mais intenso no Brasil. E mesmo com a recuperação da moeda no exterior durante a tarde, o dólar à vista fechou em baixa de 1,20% no balcão brasileiro, cotado a R$ 2,2310.
Na cotação máxima da sessão de hoje, às 9h22, o dólar marcou R$ 2,2660 (+0,35%) e, na mínima, às 13h07, atingiu R$ 2,2270 (-1,37%). Da máxima para a mínima, a moeda oscilou -1,72%.
Desde a segunda-feira, tem chamado a atenção justamente o fato de o dólar, no Brasil, registrar movimentos extremos, muitas vezes na contramão do que é visto no exterior. Na segunda, o dólar no balcão caiu 1,68%, em um recuo bem mais intenso que o verificado ante outras divisas de países ligados a commodities. Ontem, apesar da queda no exterior, o dólar fechou em forte alta ante o real, de 1,30%. Hoje, por sua vez, enquanto o dólar subia ante boa parte das moedas de países emergentes no fim da tarde, ele caiu mais de 1% ante o real.
O discurso do presidente do Fed, divulgado pela manhã, trouxe um viés de queda para a moeda americana em todo o mundo, em meio à perspectiva de que os estímulos è economia dos EUA continuarão por mais tempo. Com uma linguagem mais clara, Bernanke afirmou em discurso que as compras de US$ 85 bilhões por mês em bônus "não têm de forma alguma uma direção definida". Ele disse ainda que o Fed pode manter o programa intacto por mais tempo ou até aumentar as compras, se o mercado de trabalho piorar ou se a inflação não voltar a ficar próxima da meta de 2%. No Brasil, isso fez o dólar cair de forma mais consistente, após a moeda ter registrado ganhos na abertura.
Mais tarde, com Bernanke respondendo perguntas de congressistas nos EUA, a moeda americana voltou a recuperar terreno ante outras divisas – mas isso não ocorreu em relação ao real. Para alguns profissionais ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, isso está ligado a um acirramento da especulação. "Desde segunda-feira, começamos a experimentar outro tipo de movimento no Brasil. Quando o dólar sobe, o pessoal vende a moeda e depois recompra. Hoje, por exemplo, foi um bom dia para vender, com muita gente aproveitando a suposição de que o mercado navega no tom do Fed para fazer negócios", comentou Sidney Nehme, sócio da NGO Corretora.
Na visão de Nehme, o presidente do Fed teria aberto as portas para a queda do dólar ante o real, mas o recuo foi muito mais intenso do que o verificado lá fora justamente por conta da especulação. "Desde segunda-feira, o mercado brasileiro tem trabalhado nos extremos. Pode estar tendo mesmo muito movimento especulativo", confirma João Paulo de Gracia Corrêa, gerente de câmbio da Correparti Corretora. Esta também é a percepção de profissional da mesa de câmbio de um banco ouvido pela Broadcast.
Enquanto o dólar caiu 1,20% no Brasil, às 16h39 a moeda tinha alta de 0,14% ante o dólar australiano, subia 0,41% ante o canadense e tinha leve baixa de 0,11% ante o neozelandês. Perto deste horário, o dólar para agosto era cotado a R$ 2,2370 (-1,04%) no mercado futuro brasileiro.
À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial estava negativo em US$ 1,105 bilhão em julho até o dia 12, resultado de um fluxo financeiro negativo de US$ 1,520 bilhão e um fluxo comercial positivo de US$ 415 milhões.
O EstadãoUOL