O dólar despencou nesta segunda-feira e fechou praticamente em 2 reais, nível mais baixo em quase sete meses, após o Banco Central sinalizar que permitirá que a moeda brasileira se valorize para conter a inflação.
A divisa norte-americana teve forte queda de 1,51%, para 2,0014 reais na venda, a menor cotação desde o dia 2 de julho, quando fechou a 1,9874 reais.
Durante os negócios, o dólar chegou bem perto de 2 reais mas não foi negociado abaixo desse valor, respeitando uma vez mais o que investidores consideravam ser o piso da banda informal imposta pelo governo ao mercado de câmbio.
No mercado futuro, no entanto, a moeda norte-americana já era negociada abaixo de 2 reais. O contrato de dólar com vencimento em fevereiro era negociado a 1,998 reais, forte queda de 1,7% em relação ao último fechamento.
A especulação de que o governo quer que o dólar caia cresceu depois que o BC anunciou a rolagem de 37 mil swaps cambiais tradicionais que vencem em 1º de fevereiro, na sua primeira intervenção neste ano.
Estes contratos, que imitam a venda de dólares no mercado futuro, foram inicialmente vendidos pelo BC para dar liquidez ao mercado de câmbio no final do ano passado, período em que tradicionalmente há mais escassez de dólares no país.
Alguns investidores foram pegos de surpresa pela decisão da autoridade monetária, que parece contradizer recentes declarações de diversas autoridades do governo –incluindo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que afirmou em novembro passado que o dólar acima de 2 reais "veio para ficar".
"As autoridades brasileiras continuam a fazer o que elas sabem fazer melhor: confundir os mercados", escreveram em relatório os analistas do Brown Brothers Harriman Ilan Solot e Win Thin. "Muitos esperavam que o BC não rolasse esses contratos para sinalizar que o piso de 2 reais continuaria a ser defendido."
Para os analistas, o BC parece ter sinalizado o desejo de que o dólar continue a cair, "talvez para baixo de 2 reais", de forma a ajudar no combate à inflação sem elevar a taxa básica de juros.
Outros analistas concordam.
A rolagem dos swaps "é uma boa indicação de que realmente eles estão tendo uma tolerância maior à valorização do real, pelo menos no curto prazo. Acho que isso é bem ligado à deterioração da inflação", disse a estrategista do RBS Securities, em Stamford, nos Estados Unidos, Flavia Cattan-Naslausky.
Para ela, o movimento do BC nesta manhã, anunciado quando a moeda norte-americana já operava em queda, é um sinal de que o BC permitirá que o dólar caia abaixo de 2 reais, desde que o movimento não seja brusco.
O dólar tem operado acima de 2 reais desde o início de julho, quando o governo interveio para determinar uma cotação mais favorável aos exportadores brasileiros.
Investidores apostam que o governo vai favorecer um dólar mais baixo pelo menos durante o primeiro trimestre do ano, quando as pressões inflacionárias são tradicionalmente mais altas no país.
Durante este mês, o dólar ficou sendo negociado numa faixa bastante estreita, entre 2 e 2,05 reais, numa banda informal que o mercado acreditava ser a escolhida pelo BC.
Reuters/IG