As divisas emergentes latino-americanas foram as que mais sofreram com a onda de aversão global ao risco deflagrada por temores de desaceleração mais forte da economia norte-americana
Após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, abrir a porta ontem para início de corte de juros em setembro, investidores hoje receberam dados sugerindo perda de fôlego maior da atividade nos EUA. O índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês), medido pelo ISM, caiu em julho, na contramão da previsão de alta, e se manteve abaixo da linha de 50 pontos, o que sugere contração. Os números de pedidos semanais de auxílio-desemprego subiram mais do que as expectativas.
A leitura de economia aquecida e resiliência inflacionária deu lugar ao temor de uma desaceleração econômica abrupta, com até eventual recessão nos EUA. Não à toa o Banco Central americano, embora tenha repetido ontem que precisa de maior confiança no processo de desinflação para reduzir os juros, alertou que está atento a riscos para os dois lados de seu mandato duplo: controle de inflação e pleno emprego.
Lá fora, as bolsas americanas despencaram, com tombo das big techs, as taxas dos Treasuries recuaram e a moeda americana ganhou força na comparação com o euro e a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O iene subiu mais um degrau na comparação com o dólar, o que pode ter contribuído para a depreciação mais aguda de divisas latinas. O petróleo recuou com receio de enfraquecimento da demanda se sobrepondo a riscos à oferta vindos de possível conflito entre Israel e Irã.
Principal termômetro do apetite para negócios, o contrato de dólar futuro para setembro teve giro forte, acima de US$ 17 bilhões, o que sugere mudanças relevantes de posicionamento. Operadores citaram busca por hedge e ordens de “stop loss” de agentes que carregam posições vendidas em derivativos cambiais. O quadro externo deixou em segundo plano a reação ao comunicado da decisão de ontem do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 10,50% ao ano.
A avaliação da maioria dos economistas foi a de que, apesar de vir menos duro que o esperado, o comunicado abriu uma fresta para uma eventual alta da taxa Selic caso haja piora do câmbio e deterioração maior das expectativas de inflação. O comunicado trouxe um tom mais duro do que os anteriores, com aumento das projeções para o IPCA de 2024 e 2025 e dos riscos de alta da inflação. Apesar de adotar uma postura cautelosa, o comitê não sinalizou alta de juros em sua próxima reunião e parece ter como plano de voo manter a Selic em 10,50% por período prolongado, avalia.
*Com informações do Estadão Conteúdo
Publicado por Carolina Ferreira-JovemPan