O resultado das negociações em curso sobre o comércio mundial, principalmente no âmbito da Rodada Doha, são “cruciais” para o Brasil, afirmou nesta quarta-feira, em Lisboa, o comissário europeu do comércio, Peter Mandelson, durante um encontro empresarial União Européia-Brasil.
“Os resultados são cruciais para vocês no Brasil. Na ausência de um acordo na Organização Mundial do Comércio, os seus parceiros comerciais vão procurar erguer barreiras contra economias emergentes em rápido crescimento como a sua”, disse Mandelson, dirigindo-se a brasileiros.
O comissário europeu discursava em um almoço entre empresários da UE e do Brasil, durante a cúpula empresarial bilateral, que ocorre nesta quarta-feira em Lisboa paralelamente à primeira cúpula entre europeus e brasileiros.
Mais cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, por sua vez, durante a cerimônia de encerramento da Cúpula Empresarial, que o Brasil pode ser mais flexível na Rodada Doha. “Estamos preparados para ser mais flexíveis, desde que sejam atendidos os mais justos pleitos que compartilhamos com o G-20 e do Mercosul”, afirmou. O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, também participou do encontro.
“Eu não quero sair do governo sem ter concluído o acordo da OMC, porque é a única chance que os países em desenvolvimento vão ter”, afirmou Lula.
Disputas
Para Mandelson, em caso de não haver acordo sobre o comércio mundial, “as disputas terão pouco acolhimento na OMC, e, quando tiverem, levarão muito tempo, serão muito caras e quase sempre com um resultado final mais complicado e menos satisfatório”.
“É melhor depender da negociação do que da litigância”, afirmou o comissário europeu, que manteve na manhã desta quarta um encontro com o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
“A Rodada Doha não pode ser concluída sem esforços reais de ambos, o que implica cortes no nível das tarifas máximas, mas também no das efetivamente praticadas”, afirmou, ao lado do ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e de dois ministros portugueses.
O “esforço”, afirmou, é que o Brasil reduza a “proteção tarifária atual em cerca de metade das linhas tarifárias atuais”, num período de mais de seis anos.
A UE, ainda segundo Mandelson, espera uma redução geral de cinco pontos percentuais nas tarifas, e de dez por cento no que diz respeito aos automóveis.
“É uma proposta moderada, restrita e com um período longo de implementação; precisamos de um nível mínimo de acesso ao mercado, para vender o acordo na Europa e no resto do mundo”, disse Mandelson.
A aceitação pelo Brasil “ajudaria a criar comércio sul-sul, muito necessário entre países emergentes, um objetivo chave da OMC”, afirmou.