A disputa política nos Estados Unidos em torno da situação no Iraque e os atritos entre republicanos e democratas a um ano e meio das eleições presidenciais deixam pouca margem ao atual Congresso para iniciativas que possam beneficiar a América Latina.
“O Iraque consome toda a energia e a atenção política em Washington, sem deixar margem para Rússia, China ou América Latina”, diz Michael Shifter, vice-presidente do Diálogo Interamericano, instituto com sede em Washington, no momento em que o Congresso briga sobre a retirada das tropas do país.
Após vencer as eleições legislativas de novembro passado, os democratas prometeram uma nova política para a América Latina, em meio a críticas ao presidente George W. Bush por ter “negligenciado” a região e “permitido” que o líder venezuelano Hugo Chávez aumentasse sua influência na área.
O fato é que, sete meses após os democratas assumirem o controle do Congresso, a América Latina e outras regiões do planeta estão relegadas ao segundo plano devido à disputa sobre o Iraque, com as eleições presidenciais de novembro de 2008 como pano de fundo.
Os democratas bloquearam o processo de ratificação dos Tratados de Livre Comércio (TLC) obtidos pelo governo Bush com Peru e Panamá, e descartaram a aprovação do acordo com a Colômbia, o maior aliado dos Estados Unidos na região.
“O tema do comércio é importante para a América Latina, mas os democratas [mais protecionistas que os republicanos] não querem reconhecer os acordos que Bush negociou”, afirma Shifter. “Parece que querem fazer o contrário do que Bush fez.”
“A pergunta que fazemos é se esse Congresso está preparado para aproveitar a oportunidade de construir uma associação permanente com nossos vizinhos ou se vai ceder sua influência e prestígio aos governos opressivos de Venezuela, Bolívia e Cuba”, considerou a representante Ileana Ros-Lehtinen.
Por sua parte, os democratas culpam os republicanos pelos raros sucessos na América Latina: “Tentamos prorrogar por dois anos as preferências tarifárias para os países andinos, mas os republicanos as reduziram para oito meses”, destaca Federico de Jesús, porta-voz do líder da maioria no Senado, Harry Reid.
Jesús lembrou que “não conseguimos os votos suficientes para a reforma migratória”, um projeto desejado por vários países latino-americanos que foi bloqueado no final de junho pela minoria republicana no Senado.
O porta-voz citou a possibilidade de que o senador Bob Menéndez apresente nos próximos meses um projeto de desenvolvimento social e econômico, de vários bilhões de dólares, para a América Latina.
FO