Vários líderes muçulmanos já pediram que o papa se desculpe pelos comentários feitos na terça-feira na Alemanha, quando usou os termos “jihad” e “guerra santa”.
A Assembléia Nacional (câmara dos deputados) do Paquistão aprovou por unanimidade uma resolução condenando o discurso do papa. O Paquistão tem a segunda maior população muçulmana do mundo, depois da Indonésia.
“Essa declaração magoou os sentimentos dos muçulmanos”, diz a resolução. “Ela também vai contra a Carta da ONU. Esta Casa exige que o papa retire seus comentários, no interesse da harmonia entre as diferentes religiões do mundo”.
Acadêmicos muçulmanos dizem que o papa revelou sua ignorância sobre o Islã, e alguns defenderam que os países islâmicos ameacem romper relações com o Vaticano.
Na quinta-feira, a Igreja Católica divulgou nota dizendo que o papa não quis ofender o Islã.
Na sua palestra na Universidade de Regensburg, Bento 16 citou críticas ao Islã feitas no século 14 pelo imperador bizantino Manuel 2o. Palaeologus, segundo quem Maomé só havia trazido coisas ruins e desumanas, “como sua ordem de difundir pela espada a fé que ele pregava”.
Bento 16 citou várias vezes o argumento de Manuel segundo o qual a difusão da fé pela violência é contrária à razão. “A violência é incompatível com a natureza de Deus e a natureza da alma”, afirmou o pontífice.
“É óbvio pelas declarações que o papa não tem uma compreensão correta do Islã”, disse Din Syamsuddin, presidente da Muhammadiyah, segunda maior organização muçulmana da Indonésia.
Ele acha que o discurso pode abalar as relações “harmoniosas” entre católicos e muçulmanos, e pediu a estes que evitem uma reação desproporcional.
Fauzan al-Anshori, porta-voz do grupo radical indonésio Conselho Mujahideen, disse que o papa confundiu Islã com jihad, e propôs um debate.
“Os muçulmanos não podem eliminar a jihad do discurso islâmico, da mesma forma que os cristãos não podem jogar fora a doutrina da Trindade”, afirmou.
O chanceler egípcio, Ahmed Aboul Gheit, se disse preocupado com a possibilidade de o discurso de Bento 16 complicar os esforços de reaproximação entre Ocidente e Oriente.
O Ministério das Relações Exteriores do Egito divulgou nota segundo a qual Aboul Gheit pretende “intensificar os esforços para fortalecer o diálogo entre civilizações e religiões e para evitar qualquer coisa que possa exacerbar as diferenças de credo e ideológicas”.
Em Nova Délhi, Syed Ahmad Bukhari, líder da histórica Jama Masjid, maior mesquita da Índia, conclamou os muçulmanos a reagirem às declarações do papa.
“Nenhum papa jamais tentou atacar a glória do Islã como este papa”, disse Bukhari a milhares de seguidores na mesquita, que responderam gritando “Alla-hu-Akbar” (“Deus é grande”).
“Os muçulmanos devem reagir de maneira a forçar o papa a se desculpar”, acrescentou ele nas orações de sexta-feira, sem entrar em detalhes.
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