Diego Guimarães
As projeções dos impactos da inteligência artificial nas profissões não são promissoras, sobretudo quando relacionadas à advocacia. A pasteurização de relações e o agigantamento do número de demandas judiciais, supostamente trariam consigo não só a possibilidade, mas também a necessidade de utilização, igualmente massificada, de instrumentos tecnológicos para efetivação da jurisdição a tempo e modo adequados.
Discordar deste diagnóstico parece impossível, mas ao contrário, o que é impossível é concordar com ele.
Não há verdadeira inteligência que não seja orgânica. Não há justiça sem advogado. Compilar informações e construir um texto razoavelmente coeso e legível pode parecer surpreendente, mas não é nada além do mínimo. Ferramentas da suposta inteligência artificial não produzem efetivamente nada novo. Não chegam a conclusões, apenas repetem o que já foi dito. Tentam fazer com que o nosso passado dite o nosso futuro. Realmente surpreendente é pensar que, em algum momento, isso pareceu surpreendente para alguém.
O processo de internalizar informações, fatos, premissas, valores e tudo mais que compreende e permeia o processo de tomada de uma decisão ou conclusão justa, adequada ou inovadora, necessariamente, precisa do elemento humano. Só ele é capaz de interpretar e compreender o ambiente e os cenários que lhe são dados e daí extrair algo condizente com valores de justiça, que são igualmente construídos pelo ser humano em sociedade.
Pretender excluir a componente humana e inteligente do processo jurisdicional e da operação das regras de convivência social, substituindo-a por processos estatísticos, é um erro que vai conduzir a um resultado qualquer que não a justiça.
E é sempre necessário que tomemos as rédeas do direito e dos fatos para estrangular movimentos, tanto sociais quanto políticos, que insistem, periodicamente, e em distanciá-lo (o direito) do justo.
A projeção de uma justiça sem advogado é a projeção de um mundo injusto.
Construir e efetivar a justiça demandam o advogado e a inteligência inerente e exclusiva ao ser humano. Por vezes porque ela se distancia do direito; por vezes porque ela demanda enfrentar quem redige as leis, por vezes porque exige a coragem de enfrentar a quem ela desagrada e, felizmente, só a nós seres humanos isso é exigível.
Neste dia 11 de agosto parabenizo todos os advogados e advogadas, na confiança de que ainda celebraremos a nossa data por incontáveis anos.
Diego Guimarães é advogado e deputado estadual em Mato Grosso pelo partido Republicanos