Um perigo iminente à Saúde e ao Meio Ambiente é a utilização indiscriminada de agrotóxicos. Em um país com grandes fronteiras agrícolas, o uso em larga escala deste tipo de produto é preocupante. Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos Defensivos (Sindag) apontam que em 2009 foram vendidas no Brasil 789.974 toneladas de agrotóxicos, movimentando US$ 6,8 bilhões, despontando em primeiro lugar no ranking de consumo dessas substâncias no mundo. São mais de 400 tipos de agrotóxicos, comercializados sob a forma de 2.195 diferentes produtos.
A preocupação aumenta ainda mais por ser Mato Grosso o maior consumidor de agrotóxicos do Brasil. Anualmente, são aplicados 46,2kg de agrotóxicos por habitante. O cálculo per capita, feito a partir do total de produtos defensivos comprados por proprietários de terras do Estado, é o maior do país e supera em mais de 1000% o índice nacional, que é de 3,9 quilos por brasileiro.
Em 2009, Mato Grosso consumiu 73.284 toneladas de herbicida, 16.262 toneladas de fungicida, 33.568 toneladas de inseticida, 26 toneladas de acaricida e 57 toneladas de formicida, além de 13.139 toneladas de outros tipos diversos de produtos defensivos. A compra total dos defensivos pelo estado no ano passado ultrapassou a cifra de U$ 1,2 milhão.
Um projeto de lei, de autoria do deputado José Riva, que tramita na Assembleia Legislativa, aparece com a função de chamar a atenção da população sobre os perigos e malefícios do uso direto e consumo indireto dos agrotóxicos à saúde e ao meio ambiente. A proposta é criar o Dia Estadual do Campo Limpo e de Conscientização para a Prevenção de Intoxicação por Agrotóxicos, a ser comemorado no dia 18 de agosto. Órgãos competentes nas áreas de saúde, meio ambiente, agricultura, educação e cultura, na data, deverão promover atividades educativas e culturais. Também será instituída uma campanha publicitária anualmente no mês de agosto.
“A ideia é divulgar as legislações vigentes que regulamentam a compra e o uso de agrotóxicos. Falar sobre os cuidados necessários na utilização de agrotóxicos e as formas de prevenção de acidentes, bem como incentivar a produção de alimentos através da agricultura orgânica, agroecológica ou biodinâmica”, justificou Riva.
ESTUDO – A constatação dos malefícios de agrotóxicos até mesmo na chuva foi resultado de um estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O pesquisador e médico doutor em saúde coletiva, Wanderlei Pignati, explica que quatro coletores foram instalados na zona rural e central do Estado para realizar testes. Nas amostras foram encontrados de 3 a 12 tipos diferentes de agrotóxicos. “Em 60% das amostras havia incidência de defensivo”, destaca o pesquisador.
Em poços artesianos, o mesmo processo foi realizado e constatado de dois a seis tipos diferentes de agrotóxico, com incidência em 30% das amostras. O uso indiscriminado de agrotóxicos na produção agrícola e a contaminação dos alimentos têm preocupado profissionais da área de saúde pública.
Um estudo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), iniciado em 2001, mostra que muitos dos alimentos que consumimos normalmente estão contaminados.Segundo a própria Anvisa, os agrotóxicos “são ingredientes ativos com elevado grau de toxicidade aguda comprovada e que causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer”.
Já na lista de reavaliações da Anvisa, itens como suspeita de indução de câncer em seres humanos, efeitos letais sobre tecidos nervosos e possibilidade de efeitos sobre o sistema reprodutivo aparecem diversas vezes para os 14 diferentes produtos colocados em reavaliação.