deputado Guilherme Maluf (PSDB) teria atuado para evitar que o nome dele fosse citado pelos ex-servidores presos durante a Operação Rêmora, do Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em maio do ano passado, como envolvido no esquema de fraudes na Secretaria Estadual de Educação (Seduc). Maluf é apontado pelo Ministério Público Estadual (MPE) como um dos supostos líderes da quadrilha de fraudes em contratos de obras de escolas estaduais, em 2015. Maluf ainda não se manifestou. A reportagem não localizou a defesa de Wander Luiz dos Reis.
À época, de acordo com o Ministério Público, o parlamentar que era presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) dobrou o salário da filha de Wander Luiz dos Reis, ex-superintendente de Acompanhamento e Monitoramento da Estrutura Escolar da Seduc.Wander foi preso em maio de 2016, em Natal (RN), durante férias com a família.
Outros dois ex-servidores do órgão, Fábio Frigeri e Moisés Dias da Silva, também foram presos na primeira fase da operação. Todos eles já estão soltos.
Conforme o MPE, depois da primeira fase da Operação Rêmora, para garantir que Wander não revelasse a atuação de Guilherme Maluf à polícia, o parlamentar buscou ajudá-lo financeiramente, aumentando a remuneração paga à filha dele, servidora comissionada da Assembleia Legislativa.
"Imediatamente após a prisão de Wander Luiz dos Reis, ocorrida no mês de maio de 2016, no mês de junho do mesmo ano Renata dos Reis passou a receber uma gratificação de nomenclatura GAP correspondente a 100% do valor do seu vencimento, ou seja teve sua remuneração dobrada", diz trecho da denúncia oferecida à Justiça pelo Ministério Público.
Wander Luiz dos Reis passou cinco meses preso (Foto: Reprodução/ Facebook)
O MPE diz, na denúncia, que, nos meses anteriores à prisão de Wander, a remuneração da servidora era composta exclusivamente pelo vencimento base, de R$ 3.788,24, desde agosto de 2015. Em maio, inclusive, ela recebeu R$ 3.220,61 e, no mês seguinte, além do salário base de R$ 3.570, a servidora passou a receber uma gratificação de R$ 3.570.
Em julho, ela ganhou um cargo de assessora parlamentar, com salário de R$ 7.140, segundo a ação.
Embaraço
Além disso, Guilherme Maluf teria tentado prejudicar as investigações, por meio de suposta coação ao empresário Giovani Guizardi, dono da Dínamo Construtora, que também foi preso no ano passado acusado de envolvimento no esquema de fraudes em contratos na Seduc.
"O denunciado Guilherme Maluf buscou frustrar a continuidade das investigações atuando para que o investigando Giovani Belatto Guizardi não revelasse aos investigadores a sua concorrência nos crimes investigados", pontua o MPE.
Para isso, o deputado teria tentado intimidar o empresário, que à época estava preso, por meio do segurança dele, Milton Flávio de Brito Arruda, que é agente penitenciário e à época tinha sido cedido para atuar na Assembleia. Milton também foi denunciado na semana passada pelo MPE.
Como era agente penitenciário, Milton tinha fácil acesso às unidades prisionais do estado. Desse modo, de acordo com a denúncia, no dia 24 de setembro de 2016, o segurança do deputado foi até a base do Serviço de Operações Especiais (SOE), em Cuiabá, onde Guizardi estava preso e o ameaçou.
A intenção era desestimular Giovani Guizardi a colaborar com as investigações que levariam à elucidação do envolvimento de Guilherme Maluf com os crimes praticados pela organização criminosa. Durante a visita, o segurança teria dito o seguinte ao empresário: "Está tudo bem? Você lembra de mim? Sou segurança do Guilherme, se precisar de alguma coisa, resolvemos".
Núcleo de lideranças
Guilherme Maluf, segundo o MPE, fazia parte do núcleo de líderes da organização e supostamente se beneficiava diretamente com a propina arrecadada junto às empresas que mantinham contrato com a Seduc.
Além disso, o MPE aponta que se valia das influências políticas proporcionadas pelo cargo eletivo para promover as articulações necessárias para o desenvolvimento dos esquemas criminosos voltados para solicitação e recebimento de propinas.
Entre os membros desse núcleo de liderança da organização criminosa está o ex-secretário estadual de Educação, Permínio Pinto Filho, que também é filiado ao PSDB. Permínio passou cinco meses preso e, em depoimento prestado em dezembro, quando ainda estava na prisão, confessou a existência de um esquema de corrupção para desviar verba da educação para supostamente quitar dívidas de campanha do governador Pedro Taques (PSDB). A informação é negada pelo governador.
Conforme o MPE, a organização era composta pelos núcleos de lideranças, agentes públicos, operações e de empresários. Todos os integrantes do grupo já foram denunciados e já respondem a ações penais.
G1-MT