A mensagem da presidente Dilma Rousseff não poderia ter sido mais clara. “Os investimentos que fizemos permitem ao Brasil superar as dificuldades momentâneas, mantendo a política de tarifas baixas”, disse ela em 2014, sobre o preço final da energia para o consumidor. Meses antes, em cadeia nacional de rádio e TV, Dilma preconizava a vitória de seu governo nessa área. “O Brasil tem e terá energia mais que suficiente para o presente e para o futuro, sem nenhum risco de racionamento”, anunciou. Em mensagem anterior, a presidente repetia o mantra: “A partir de agora, a conta de luz das famílias brasileiras vai ficar 18% mais barata”, dizia Dilma. “O Brasil, que já é uma potência energética, passa a viver uma situação ainda mais especial no setor elétrico.” Enquanto a presidente entoava sua cantilena e incentivava o consumo, as usinas térmicas, cuja produção é mais cara, começavam a ser acionadas para suprir a crescente demanda. Mas elas não deram conta de tudo. Resultado: não só houve racionamento como o custo da energia disparou – o oposto, portanto, de tudo que a chefe da nação tinha prometido. Na terça-feira 3, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou um reajuste salgado para seis distribuidoras de energia. A conta de luz dos consumidores atendidos por elas – a maioria da região Sudeste do País – vai ficar de 18,6% a 45,7% mais cara.
Em janeiro, o nível das represas do Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% da capacidade de armazenamento do sistema elétrico como um todo, ficou em 16,8%. No fim do verão no ano passado, era próximo de 40%. De acordo com Gameiro, “deixaram uma bomba-relógio para 2015.” Nos cálculos da Trade Energy, a expectativa de aumento médio nas tarifas neste ano, que antes estava entre 30% e 40%, agora chega a quase 50%. O Sistema Firjan, que representa as indústrias do Rio de Janeiro, estima que o aumento do custo da energia para o setor deve ser de 34% neste ano. O valor, contudo, pode ser revisto para 39,8% segundo o novo percentual estipulado para as bandeiras tarifárias. No ano passado, o reajuste foi próximo de 20%. “Não consigo enxergar uma reversão dessa tendência de alta, porque nenhuma medida estrutural tem sido tomada”, diz Cristiano Prado, gerente de competitividade industrial e investimentos do Sistema Firjan. “A consequência é nefasta num momento em que o País não está crescendo. Isso diminui a produção, a competitividade e o investimento.” De acordo com a diretora de relações institucionais da Confederação Nacional da Indústria, Mônica Messenberg, “a elevação das tarifas representa um obstáculo adicional, dentro de um cenário adverso, para a recuperação da atividade industrial, no curto prazo.” No varejo, a notícia também espalhou pessimismo. “Desde 2001, o setor investe na geração de energia e na redução do consumo”, diz Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers. “Hoje somos penalizados mesmo sendo o setor que provavelmente mais investe em eficiência energética.”
OBSTÁCULO ADICIONAL
A atividade industrial, que já sofre com o esfriamento da economia,
deve ser ainda mais atingida pelos reajustes
Apesar do aumento significativo nos custos, o risco de apagão não está descartado. Segundo o instituto Acende Brasil, o País ainda está exposto a novos blecautes ao longo deste verão, já que não há previsão da entrada de capacidade adicional até março. Se em 2014 o pico de demanda aconteceu em meados de fevereiro, neste ano ele chegou mais cedo. Na tarde de 19 de janeiro, dez Estados e o Distrito Federal ficaram 50 minutos sem luz. Os recursos disponíveis de geração, inclusive térmica, e transmissão estão todos sendo usados no limite.
Fotos: Reprodução; LUCAS LACAZ RUIZ; GERJ
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