O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), afirmou nesta quinta-feira, 16, que o depoimento do usineiro João Lyra piora a situação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Tuma ouviu Lyra, que diz ter sido sócio do senador nas emissoras de rádio e confirmou o uso de “laranjas” no negócio, por quase três horas em Maceió, Alagoas. Tuma ficará na cidade para ouvir nesta Tito Uchôa, primo de Renan apontado como um dos “laranjas”, e o empresário Luiz Carlos Barreto, um dos donos das empresas compradas pelo senador.
Lyra confirmou as denúncias que fez à revista Veja a “sociedade secreta” que estabeleceu com Renan para a compra de duas rádios e um jornal. Os veículos de comunicação teriam sido comprados por eles aos empresários Nazário Pimentel e Luiz Carlos Barreto, por R$ 1,3 milhão. Segundo Lyra, ele teria entrado com R$ 650 mil e Renan com a outra metade.
Para Tuma, em tese, esse tipo de negócio depõe contra o decoro parlamentar. O corregedor disse também que a atitude de Lyra de admitir a participação em uma negociação secreta também lhe complica. “Mas como ele (Lyra) não tem mandato, vai ter que responder pelo crime na polícia, se for o caso”, destacou Tuma. Segundo ele, o empresário disse ainda que emprestou o seu jatinho para Renan, quando o senador já exercia o cargo de presidente do Senado. “Isso também não é correto”, afirmou Tuma.
O depoimento aconteceu na sede do Grupo JL – de propriedade de Lyra – na praia de Guaxuma, Litoral Norte de Maceió. Foram quase três de depoimento e apresentação de documentos. O depoimento foi acompanhado apenas por assessores de Lyra e delegados da Polícia Federal. A imprensa só teve acesso para registrar imagens.
Lyra não quis conceder entrevista, mas o senador Romeu Tuma fez um balaço da audiência. Segundo ele, João Lyra não só confirmou as denúncias como apresentou documentos, mas nenhum com a assinatura de Renan. Todos os recibos comprovando a suposta sociedade secreta foram assinados por Tito Uchôa.
“O João Lyra disse que indicou um assessor de nome Leonardo para lhe representar no negócio e Tito Uchôa era o representante de Renan”, revelou Tuma, que pediu ajuda à Polícia Federal para localizar Tito Uchôa. “Vou ter que ouvi-lo de qualquer maneira e se for o caso farei uma acareação para saber quem está dizendo a verdade”, disse o corregedor. O depoimento de Barreto está confirmado para as 9h30 dessa sexta-feira, na sede do semanário Primeira Edição, montado pelo empresário, logo após a negociação com Lyra e Renan.
Troca de cartas
Em carta distribuída aos órgãos de imprensa, nesta quinta-feira, o usineiro se defendeu das acusações feitas contra ele por Renan e chamou o senador de “hipócrita”, “bajulador”, de má-formação de caráter e de lhe fazer “calúnias”. Em seguida, Renan soltou nota, na qual rebate as acusações de Lyra. Renan acredita que o motivo dos ataques, segundo a nota, é “um triste retrato da mentira e da hipocrisia”. Reafirma que Lyra é acusado de crimes pela Justiça, e não por ele. E destaca: “Nada temo, nada devo, não respondo por crime algum”.
Já a carta de Lyra relata que “tamanha é a hipocrisia” da atitude de Renan, que, se ele (Lyra) “fosse um malfeitor” como diz o senador, como é que este explicaria à Nação o fato de ter sido recebido no gabinete da Presidência da República quando Renan assumiu o cargo de presidente interinamente.
Nesta quinta, a Mesa Diretora do Senado autorizou, por unanimidade dos sete senadores presentes, encaminhar ao Conselho de Ética a terceira representação contra o presidente da Casa.
Além desta, Renan já responde a outros dois processos no órgão. A primeira, a pedido do PSOL, se refere a suspeitas de que ele teria despesas pessoais pagas por lobista ligado à construtora Mendes Junior. A segunda, também solicitada pelo PSOL, investigará se Renan teria beneficiado a cervejaria Schincariol, que comprou uma fábrica de refrigerantes falida do senador.