Os dados desta semana mostrando que o Brasil teve um déficit na conta de transações correntes de US$ 4,23 bilhões (em torno de R$ 8,5 bilhões) em janeiro devem, com o atual desempenho, ser causa de alarme.
O número foi muito pior que os US$ 2,7 bilhões (em torno de R$ 5,4 bilhões) esperados por muitos economistas e deu ao Brasil seu primeiro déficit acumulado em 12 meses (de US$ 1,17 bilhão) em cinco anos. Tampouco parece um soluço. A maior parte dos economistas acredita que os déficits continuarão pelo menos até o final do ano.
O aumento do índice de crescimento do Brasil nos últimos anos – de uma média de 2.5% nas duas décadas anteriores a 2003 até mais de 5% no ano passado – foi movido pelas exportações.
Assim, o fato do superávit comercial do país provavelmente encolher de cerca de US$ 40 bilhões (aproximadamente R$ 80 bilhões) no ano passado para cerca de US$ 33 bilhões (cerca de R$ 66 bilhões) neste ano deve ser motivo de preocupação.
A redução do superávit não é causada pela queda nas exportações, que ainda estão crescendo, mas por um aumento ainda mais rápido nas importações. A expansão do emprego e dos salários, o crédito mais barato e índices mais altos de investimento fizeram com que a economia interna brasileira se tornasse o novo motor do crescimento.
De fato, enquanto a conta corrente – que soma o valor das importações e exportações, serviços, juros da dívida externa, turismo e outras transferências – está entrando no vermelho, a conta de capital e financeira – que cobre o investimento direto estrangeiro, o investimento em carteiras e a dívida – está fortemente no azul. Em janeiro, apresentou um superávit de US$ 7,5 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões), movida pelo investimento estrangeiro direto de US$ 4,08 bilhões (em torno de R$ 8 bilhões).
A moeda brasileira, porém, continua apreciando. O real foi negociado por menos de R$ 1,70 para o dólar na manhã de segunda-feira (25), seu nível mais forte desde maio de 1999.
Isso permitiu que o BC continuasse acumulando reservas, até o ponto do Brasil se tornar um credor líquido do resto do mundo em janeiro. As reservas estrangeiras estão em cerca de US$188 bilhões (em torno de R$ 376 bilhões), uns US$ 7 bilhões a mais do que o total da dívida do setor público e privado. Isso aconteceu mesmo enquanto a crise no mercado financeiro global levou os estrangeiros a sacarem US$ 3,1 bilhões (cerca de R$ 6,2 bilhões) de títulos brasileiros em janeiro, em grande parte para cumprir obrigações em outros mercados.
Será que o Brasil pode mudar facilmente da dependência de exportações e de investimento estrangeiro em ações para a demanda interna e investimento direto estrangeiro? A maior parte dos economistas não vê porque não.
“Não há sinal de qualquer desequilíbrio até agora”, diz Alexandre Schwartzman, economista do ABN Amro em São Paulo. “Mesmo que a atual conta se torne um problema, a cura evidente é que a moeda vai se depreciar.” Schwartzman diz que o investimento direto estrangeiro vai empurrar o índice geral de investimento fixo no Brasil de cerca de 17,5% do PIB (Produto Interno Bruto) no final do ano passado para cerca de 19% até o final de 2008. Isso deve promover o crescimento para um pouco mais do que 4,5% ao ano, sem provocar inflação.
Isso é muito mais do que a Rússia, Índia e China – os outros membros do chamado grupo Bric de campeões do mercado emergente. A maior parte dos economistas diz que o crescimento seria ainda maior se o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizesse as reformas fiscais tão esperadas.
No entanto, o crescimento nos últimos anos já fez de Lula o líder mais popular na memória viva, e assim a maior parte dos brasileiros deve continuar feliz.
Tradução: Deborah Weinberg
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