O Fluminense apresentou oficialmente na manhã desta segunda-feira o meia Deco, ex-jogador de Chelsea, seu último clube com o qual rescindiu para voltar ao Brasil. O atleta, que assinou contrato por dois anos, afirmou que voltou por gostar de desafios, pois já não sentia isso em Londres, por causa das garantia financeiras que lhe foram dadas e também pela permanência de Muricy Ramalho. Quando soube que o treinador podia sair para a seleção brasileira, ficou preocupado. Para Deco, com Muricy, “as coisas ficam mais fáceis”, sem deixar de alfinetar seu ex-clube, Corinthians, vice-líder do Brasileiro, atrás apenas do Fluminense: “Bom saber que estão atrás”.
“Para mim é um desafio, tenho de provar e vou provar. Quando vou jogar, o treinador vai decidir. Foi um investimento alto do Fluminense, mas meu também. Ganharia muito mais se ficasse no Chelsea e tenho cinco filhos para criar, é claro que preciso de dinheiro, não sou milionário. Garantias foram dadas, Mas não foi questão de dinheiro, foi de desafio”, disse o jogador.
Deco, que completa 33 anos no dia 27 deste mês, começou no futsal, defendendo uma equipe de Indaiatuba, no interior de São Paulo, para onde se mudou com a família aos quatro anos. Nasceu em São Bernardo do Campo. No campo, iniciou no Guarani e defendeu o Corinthians como profissional, lançado por Valdir Espinosa, mas por apenas dois jogos.
Os outros 16 que fez no Brasil foram no CSA de Alagoas. Atuou apenas uma vez no Maracanã, em 2008, em jogo das estrelas organizado por Zico. Ele ainda brincou sobre a vinda de outros grandes nomes da Europa para as Laranjeiras: “Drogba já falou, que daqui dois anos quer vir para o Brasil, quem sabe?”.
No currículo, Deco carrega conquistas da Liga dos Campeões por Barcelona e Porto, e derrotas marcantes como a perda da Eurocopa de 2004 para a Grécia, com a seleção portuguesa, e também a perda do Mundial de Clubes para o Internacional, em 2006, com o Barcelona.
Os dirigentes do Fluminense fizeram questão de rasgar todos os elogios que pudessem à Unimed, bem como Deco, que terá da patrocinadora ajuda para o seu instituto, o “Deco20”, que ajuda 300 crianças de quatro comunidades. “Não foi fator decisivo”, disse o atleta. Citado por Celso Barros, o presidente da Unimed, pela participação na negociação, o ex-atacante Luizão também se fez presente.
“Estamos conversando desde maio, uma negociação difícil, complicada, e felizmente ela está concretizada. Espero que nos ajude a alcançar todos os títulos que a torcida espera. Quero agradecer aos amigos do Deco, o Luizão. Ajudaram muito, obrigado pelo apoio e pelo carinho, acho que é justo fazer essa citação”, afirmou Barros, cuja empresa pagará quase sozinha os cerca de R$ 9 milhões anuais que Deco deverá receber nas Laranjeiras.
O presidente do Fluminense, Roberto Horcades, por sua vez, não fugiu ao seu hábito. Não hesitou em dizer que, com Deco, o clube das Laranjeiras tem o melhor time, o melhor elenco, o melhor técnico, e que, se não vencer o Campeonato Brasileiro, “é por causa de uma palavrinha que não gosta de dizer”.
Confira a entrevista completa de Deco:
Acerto com o Fluminense
“Quero agradecer o esforço que sei que é muito grande, nem digo financeiro, a vontade e o desejo de resolver, que foi o que o Fluminense e a Unimed demonstraram. Foram eles que trabalharam nisso, me ajudaram a voltar, e falar que para mim é uma responsabilidade grande de voltar ao Brasil. Muitos amigos me criticaram, achavam que não era o momento, tinha mais um ano de contrato com o Chelsea. Mas era um sonho meu, o Fluminense quis de verdade, abriu as portas, foi o clube que me procurou com um projeto sério e tenho certeza que serei muito feliz aqui”.
Ligação com Portugal
“Os meus filhos nasceram lá, tenho grandes amigos, alguns dos meus melhores, o que Portugal fez por mim eu não vou esquecer jamais e com certeza a minha vida está ligada a Portugal. No momento estou no Brasil, mas certamente estou ligado a Portugal, especialmente ao Porto, onde fiquei sete anos, conquistei títulos e grandes amigos.
Portugal está no meu coração”.
Rivais no Brasil
“Talvez nesse momento o Corinthians é o que está junto, mas não descarto São Paulo, Internacional, até porque estavam na Libertadores. Acredito que quando começar o segundo turno vai complicar muito mais. Falta muito campeonato, talvez o campeonato mais difícil do mundo e temos de manter o que o time fez até agora”.
Motivos para o acerto
“O que pesou foi a vontade de voltar, as condições de trabalho de um time vencedor, e as garantias de ter a Unimed por trás, de ter condições mínimas para poder voltar, saber que tinha o Muricy no comando. Tanto que eu soube que o Muricy poderia sair, fiquei preocupado. Queria um time vencedor e sei que com o Muricy as coisas ficam mais fáceis”.
Adaptação ao futebol brasileiro
Acho que não terei problemas, sei que é diferente, mas acho que não.
Os jogadores de qualidade jogam no Brasil, acho que eu tenho, então vou jogar. Temos jogadores de muita qualidade, Diguinho, Gum, não só esses sempre citados. O Conca é craque, o Fred, referência, mas isso tudo nós temos de provar no campo. É bom ter jogadores desse nível e no final é que vamos poder dizer se foram os melhores ou não, nesse momento não podemos dizer isso”.
Perda do título mundial com o Barcelona
Depois da Eurocopa que perdemos em Portugal contra a Grécia, foi o pior título que perdi. Para nós, brasileiros, sabemos o valor que isso tem. Na Europa não tem tanto, é Liga dos Campeões. Quando jogamos com o Inter, a nossa preparação não foi a correta, não foi a melhor, e o Inter veio mais preparado. O Barcelona de certa forma menosprezou o Inter naquele momento. Lógico que para mim seria fantástico poder disputar esse título de novo.
Encerrar carreira nas Laranjeiras
“Não pretendo jogar muito mais tempo, quero acabar com uma imagem positiva, mas não é o momento de pensar nisso, mas de jogar. Com certeza, encerrar a carreira aqui pode acontecer”.
Número 20
“O 20 foi porque sempre usei a 20, na seleção, no Barcelona, é o nome do meu instituto Deco20, Paulo Ferreira usava a 20 no Chelsea e era meu amigo, me cedeu o número. Aqui se tivesse alguém, não teria problema, mas pedi para usar. O Beletti já me falou muito bem do grupo. Não vim para provar nada, mas provar para mim mesmo. Só eu sei o que quero, o que busco, apesar das críticas que recebi. Me sinto realizado, mas sinto que faltam algumas coisas a realizar. Espero ser campeão pelo Fluminense”.
Família e motivos da saída do Chelsea
“A família também foi um dos maiores motivos, mas isso poderia acontecer quando acabasse o meu contrato com o Chelsea. Então por eles, claro, mas por todas as razões que citei. Eu já não estava mais sentindo desafio no Chelsea”.
Jogar no Maracanã
“A ansiedade não acaba nunca, todas as experiências novas, jogar no Maracanã será fantástico. Sempre tive a sorte de ter carinho onde passei e espero que isso aconteça aqui. Vou realizar esse meu sonho de criança. A vida não tem como você programar os caminhos. Nunca esperava jogar em Portugal ou na seleção portuguesa, isso aconteceu.
Não tenho mágoa do Brasil, muito pelo contrário, adoro o Brasil. Nunca tive esse sentimento”.
Posição preferida
“É com o treinador que tenho de conversar. O Muricy sabe como eu jogo, a minha posição, se ele quis que eu viesse, sabe o que vai fazer e onde poderei jogar. Eu estou bem, agora é uma questão de treinar e melhorar, mas certamente os problemas que tive lá (lesões em 2009 no
Chelsea) não acontecerão aqui”.
Parceria para seu instituto
“Sim, vai haver uma parceria para o instituto, é um trabalho que faço há alguns anos. A Unimed, como eu disse, não tem a questão do ajudar, do financeiro, é muito melhor você vir para onde te querem de verdade, do que onde tem um ou dois que te querem, um lugar onde te querem mais ou menos. É óbvio que o Celso visitou, ficou comovido e ele próprio falou que gostaria de ajudar, e fico feliz de saber que temos a Unimed para isso, mas não foi um fator decisivo”.
Estrutura
“Eu não venho com intuito de mudar nada, venho para fazer meu trabalho, jogar, me divertir e tentar vencer. Logo que há diferenças, mas há fantasma que na Europa é tudo bom e aqui é tudo ruim, estou há 13 anos lá e sei que não é isso. Lógico que se o processo melhorasse, seria bom para o futebol brasileiro, mas essa não é a minha responsabilidade”.
Apelido de “Mago”
“Isso aí é do Porto, a torcida chamava, tinha esse carinho, mas não sou mágico não, sou jogador de futebol”.