quinta-feira, 07/11/2024
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“De nada adianta pagar a melhor terapia, se não houver atenção especial na escola”, relata mãe de autista

Mulher conta como experiência com cuidador tem ajudado na inclusão escolar de seu filho; fortalecer vínculos com aluno é essencial, aponta especialista

“Não é só o estar na escola, meu filho precisa participar, pertencer. De nada adianta eu pagar a melhor terapia, se não houver uma atenção especial onde ele estuda para que a inclusão realmente aconteça.” A afirmação com tom de desabafo é de Aline Magalhães Werner, 30 anos, professora e também mãe de Francisco, de 3 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível 2 de suporte (que demanda apoio moderado). Ela mostra a preocupação, realidade para inúmeras famílias, quando assunto é educação inclusiva.

Segundo o Censo Escolar, a inclusão de alunos com algum tipo de deficiência em escolas regulares tem andado a passos largos no Brasil. Em 2022, cerca de 1,5 milhão de estudantes com deficiência estavam matriculados, número 70% superior aos 886 mil registrados em 2014. E as salas de aula comuns concentravam até 94,2% do total desses estudantes, índice que não superava a casa dos 54% em 2008.

A questão, contudo, é a forma como essa inclusão tem se dado, tanto na esfera pública quanto na rede privada.

Estados e municípios têm encontrado formas diferentes de lidar com a educação inclusiva. Em Cuiabá (Mato Grosso), por exemplo, o município tem apostado no apoio escolar. Hoje, a rede municipal cuiabana conta com 960 Cuidadores de Alunos com Deficiência (CAD) da Conviva Serviços – instituição especializada em atendimento ao aluno com deficiência -, e se transformou em referência no estado.

São profissionais que aprendem noções básicas de algumas áreas do conhecimento para ajudar o estudante a ganhar mais autonomia e a ser inserido, de fato, no contexto escolar, com acesso digno à alimentação, à higiene íntima e bucal e à locomoção no espaço de aprendizado.

“Quando o diagnóstico de TEA do meu filho foi fechado, eu passei a me envolver com grupos de mães e ouvi muito bem sobre o trabalho das CADs da Conviva Serviços, como elas estimulam o aluno a tudo, desde a comer até a interagir na escola. É um trabalho admirável, porque elas colocam afeto na relação criada com o estudante, o que facilita essa evolução”, observa Aline, contando ter trocado o filho da rede particular de ensino para a municipal depois de conhecer o trabalho da Conviva Serviços.

Em poucas semanas de escola municipal, Francisco, que já fazia terapia ocupacional, passou a apresentar menos crises, a interagir mais e até a demonstrar carinho por colegas, algo que antes era limitado aos pais.

“Hoje, eu não sei se colocaria o Francisco em uma escola que não tivesse esse cuidado mais especial. Agora, ele sempre corre para abraçar as cuidadoras e, há alguns dias, chegou a pegar na mão de um coleguinha para ir lanchar. Eu me emocionei ao saber”, comenta Aline. “As CADs criaram técnicas que não só têm ajudado nas crises, mas me fazem compreendê-lo melhor também. Por exemplo, elas me ensinaram que, quando ele está com dificuldade para dormir, tenho que passar a mão nas costas de um determinado jeito que ele gosta para que se acalme e pegue sono. Na alimentação, quando ele se distrai, não adianta forçar, é preciso sair e distraí-lo e, depois, tentar de novo”, completa a mãe.

Outro ponto positivo ressaltado por ela com relação ao atendimento prestado pelas CADs é a noção que elas possuem sobre primeiros-socorros e técnicas para conter crises. Áreas do conhecimento que são alvos de atualização frequente pela instituição privada a seus profissionais.

“Geralmente, os autistas não têm muita noção do perigo quando estão em crise. Eles podem morder, se jogarem de lugares e se automutilarem. E as CADs acabam sabendo a melhor forma de lidar, não só pela proximidade que possuem com o aluno, mas pelo conhecimento técnico e experiência de manejo com essas situações”, pontua.

Vínculo essencial

Especialista em educação especial e em psicopedagogia clínica e institucional, a pedagoga Deisi Cristiane de Lima Barboza reforça que a educação inclusiva, para ser efetiva, depende não só desse apoio mais instruído e especial na escola, mas do fortalecimento de vínculos com o aluno. 

“O cuidado não pode ser mecânico, é preciso um olhar sobre o aluno”, avalia Deisi.

Ela lembra de uma situação vivenciada há alguns dias em uma escola no Interior de São Paulo, quando um estudante autista teve uma crise de choro em sala de aula que durou mais de uma hora.

“A profissional de apoio chegou e, com olhar mais experiente e técnico, percebeu que ele estava incomodado com a fralda. Ela o levou ao banheiro e tirou. Na hora, o choro acabou. Era só a forma de comunicação que ele encontrou para dizer que queria desfraldar. Por isso, estabelecer o vínculo é importante, esse olhar especializado e afetivo possibilita entender o que o estudante precisa. E isso é de extrema importância, pois ajuda no desenvolvimento pleno deles como cidadãos”, acrescenta Deisi.

Está na lei

A presença em classe do cuidador, também chamado de profissional de apoio escolar, é prevista desde 2008 pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva. Em 2012, o direito foi reforçado pela Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

Dois anos depois, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI) definiu legalmente o papel do apoio escolar especializado, e atribuiu ao poder público a responsabilidade de assegurar a oferta do serviço, quando necessário.

Casos de estudantes que buscam na Justiça a garantia ao direito, contudo, ainda são comuns hoje.

Alguns estados e prefeituras, no entanto, têm se mostrado mais sensíveis à questão.

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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