Quando deu entrada no hospital Jardim Cuiabá na manhã do dia 6, por volta das 8h30, o ex-governador Dante Martins de Oliveira, 54 anos, já apresentava quadro clínico de septicemia (infecção generalizada), taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos) e queda da pressão arterial (9 por 7).
Em sua primeira entrevista à imprensa desde a morte do ex-governador, o médico infectologista, Abdon Salam Khaled, que o assistiu no dois últimos dias de vida, primeiro em casa e depois no hospital, esclareceu uma série de dúvidas sobre a forma abrupta como morreu o líder das “Diretas Já”.
Abdon Salam disse que a partir da constatação da disseminação da doença, rapidamente Dante começou a apresentar alterações clínicas importantes como descompensação do diabetes (glicose no sangue), de 130mg/dl no final da tarde do dia anterior saltou para 500 no momento da internação. Ele passou a sentir muito cansaço para respirar e seus rins começaram a parar. A função renal, do normal de 1.4 na quarta-feira, pulou para 2.9 de creatinina (responsável pelo funcionamento do órgão), na quinta-feira, e a partir daí ele não urinou mais.
Nas primeiras horas de internação, no apartamento, diz o especialista, os médicos tentaram restabelecer a parte clínica. Não houve melhoras. Havia grande expectativa de reverter o processo e até aquele momento, assegurou Abdon Salam, levá-lo para a UTI não acrescentaria nada a mais no que estava sendo feito.
Em três horas após ser hospitalizado, o nível de glicemia caiu para 200mg/dl, como era esperado, segundo o médico. Entretanto, mesmo com essa queda, o quadro geral do paciente não apresentou melhoras. “Torcíamos para que o diabetes fosse o fato mais agravante porque sabíamos que se corrigisse isso teríamos uma reversão melhor, mas não, na verdade, era septicemia e nós estávamos apenas com uma conseqüência do problema grave.
A partir daí, diz o infectologista, as expectativas passaram a ser pessimistas porque a chance de surgir complicações mais graves era muito grande. Surgiu, então, a indicação de tratamento intensivo para melhorar o suporte respiratório porque a falta de ar piorou, mesmo com a glicose ficando perto do normal.
Nesse momento, diz Adbon Salam, estava definida a situação de choque. “Essa é uma outra fase, uma sequência de evento, infecção disseminada que compromete a capacidade de manter pressão arterial e fluxos orgânicos. “A infecção disseminou e começou a matar as células dos órgãos”, observou.
Da infecção generalizada até evolução para choque séptico, no caso do ex-governador, passaram cerca de 14 horas, segundo o médico. Mas Abdon Salam disse que já atendeu pacientes que morreram com essa doença com cinco e quatro horas.
De acordo com o especialista, 50% dos pacientes que evoluem para choque séptico morrem. E se dois ou mais órgãos apresentam perda das funções, como aconteceu com os rins e o coração de Dante, os percentuais de mortalidade sobem para mais de 70%. “Alguns médicos falam em até 100%”, observa Salam.