quinta-feira, 21/11/2024
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Da máfia russa aos fundos pensão e tráfico de influência

O corinthias tem sido colocado recentemente como o time com mais
apelo de marketing do país. É o que mais arrecada em patrocínio. Mais até
que o Flamengo, antes de ronaldinho gaúcho, que possui a maior torcida do
país. Parte principal desse êxito comercial é atribuído a contratação do
atacante Ronaldo. Entretanto, é importante irmos além da aparência. Para
tanto é decisivo reconstituirmos alguns elementos determinantes desde a
parceria com a MSI, seguido da queda para segunda divisão, até chegarmos ao
suposto boom atual. O envolvimento politico e empresarial desse time remonta
ao ano de 2003, a eleição de Lula da Silva e a expansão dos fundos de Pensão
e da reforma da previdência. Um ano antes surge a Hypermarcas, a grande
protagonista do patrocínio atual.
O que aconteceu com esse time na era Lula, de 2003 a 2010, parece
quase milagre. Da mesma forma que surge o mito Lula, temos também o mito da
grande gestão do Corinthias, onde o ex-vice presidente Andrés Sanches,
cúmplice da era MSI se converte em presidente na era atual. Logo após sua
nova filiação ao Partido do ex – Presidente se transforma em chefe da
delegação brasileira na copa do mundo e em seguida, mesmo sem ter estádio,
não só consegue recursos de R$ 335 milhões do BNDES, via a empreiteira
Odebrecht, para construir um super estádio que sediará jogos da copa do
mundo.
No primeiro momento o time estava endividado, sem jogadores de
expressão, sem estádio, sem centro de treinamento, sem perspectiva de
títulos. De repente se associa a empresa Media Sport Investments (MSI) de
Kia Joorabchian, que não falava uma palavra em português. Com US$ 52 milhões
o Corinthians comprou grandes jogadores da Argentina: Carlos Tevez (Boca
Júnior) e Sebastián Domínguez (Newell”s Old Boys), como também os
brasileiros que atuavam na Europa: Carlos Alberto (FC Porto), Roger (Benfica
Lisboa) e Gustavo Nery (Werder Bremen). Em seguida contratou o ex-treinador
Daniel Passarella da seleção nacional Argentina. Dai surge o título de 2005
e as denúncias de favorecimento pela arbitragem.
Segundo o Promotor Público José Reinaldo Guimarães Carneiro “A
transferência de estrelas de futebol é ideal para a lavagem de
dinheiro”(…) “Com o monopólio de jogadores, a origem dos milhões pode ser
facilmente apagada”. O jornalista desportivo Juca Kfouri afirmou que “Para
Russos ricos que querem limpar seus milhões e que estão interessados em
futebol, o passo para a América do Sul é pura lógica”. Na mesma linha o ex-
vice – presidente Antônio Roque Citadini, líder da oposição interna disse :
“como “gangsters”, os novos investidores caem em cima do Corinthians”. Romeu
Tuma ex – Conselheiro do Corinthians, ex-parlamentar e ex-chefe da Interpol
de São Paulo, colocou o serviço secreto contra a misteriosa companhia. Ele
enviou à Promotoria um dossiê com 3000 documentos sobre os supostos
investidores. Segundo ele “todos têm contatos com a Máfia”. Por esses
depoimentos parece que o Corinthians tinha acabado por se associar a uma
agência de troca de dólares sujos da ex- União Soviética vindos da
privatização daquele patrimônio estatal.
Tudo começou com uma viagem à Londres do ex – presidente Alberto
Dualibe, quando teve uma reunião organizada por Kia Joorabchian com o
bilionário russo Boris Berezowski . Nesse momento o mafioso prometeu,
também, construir um estádio novo para esse time. A promessa era
transformar o corinthias numa variante sul – americana dos “Galácticos” do
Real Madrid. Segundo a Revista Der Spiegel de 18/04/05, investigadores de um
grupo especial para combater o crime organizado rastrearam o dinheiro em
Nova ioque, no Caribe, no Reino Unido e no Cáucaso a partir da suspeita de
que dinheiro vinha da Máfia Russa. O desfecho dessa parceria foi uma
gigantesca dívida para o corinthias e a queda para segunda divisão. Estes
oligarcas russo estão efetivamente na mobilização de muitos jogadores para
os times russos e suas empresas patrocinam também times grandes na europa.
Abramowitsch, oligarca da antiga União Soviética é tratado como grande
benfeitor do antigo Clube Desportivo do Exército CSKA. Este fato pode ter
influenciado a quase vinda do Vagner Love para o corinthias.
Na etapa seguinte Sadia e Perdigão que especulavam no mercado de
derivativos, onde tiveram grandes perdas, criaram a Brasil Foods com o apoio
do BNDES, na fusão da Sadia, Perdigão e Batavo, e imediatamente já passou a
ser a grande patrocinadora, não só do Corinthias como do Flamengo. As
operações com derivativos cambiais levaram a Sadia a registrar em 2008 o
primeiro prejuízo anual de seus 64 anos de história. No ano, as perdas
líquidas chegaram a R$ 2,5 bilhões. A empresa denominada de Brasil Foods,
nasceu com uma dívida líquida de R$ 10,4 bilhões. A maior parte herdada da
Sadia, que fechou o primeiro trimestre deste ano com uma dívida líquida de
6,8 bilhões de reais, sendo 47,5% desse valor com vencimento no curto prazo
(Revista exame de 19/05/2009). Por outro lado, o Banco Panamericano, que
estava quebrado devido as suas suspeitas operações, acabou sendo comprado
pela estatal Caixa econômica federal e imediatamente tornou-se mais um
patrocinador do time do ex – presidente, pagando R$ 7 milhões mensais, por
um espaço de pouca visibilidade na camisa.
As empresas que fazem parte da Hypermarcas entre elas a Brasil
Foods, fazem parte de um projeto do BNDES de fortalecer empresas nacionais
para atuação como multinacionais no mercado externo. A Hypermarcas é chamada
de a multinacional caipira. Trata-se de uma estratégia dita nacionalista
tendo com base empresas sem muita expressão no mercado que a partir do
dinheiro público procuram concorrer com as tradicionais empresas
monopolistas. A bozzano, produtora de barbeadores, no brasil passa a tentar
concorrer com a Gillete. De um lado Ronaldo faz a propaganda da Bozzano e do
outro Kaka faz o anúncio da Prestobarba da Gilette. Da mesma forma empresas
ditas nacionais, que estavam quase que desaparecidas no patrocínio de times,
no país, voltam a patrocinar grandes equipes como a Penalty (Vasco), Topper
(Atlético – MG e Grêmio) e a Olympicos (Flamengo), enquanto parte de suas
fabricas se instalam na China, com suas precárias relações de trabalho,
sempre com o o apoio do BNDES.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se
comprometeu em contrato a subscrever até a totalidade da emissão de
debêntures no valor de R$ 1,099 bilhão aprovada pelo conselho de
administração da Hypermarcas. A operação visava capitalizar a empresa para o
pagamento da compra do laboratório Neo Química, em dezembro de 2009, e
manter seu apetite de aquisições. Desde o ano passado o BNDES negociava uma
forma de capitalizar a Hypermarcas por meio da sua subsidiária de
participações, a BNDESPar, como forma de sustentar o avanço da empresa no
setor farmacêutico, considerado estratégico pela política industrial do
governo (Revista Época 07/10/10). Parece que a torneira dos grandes
patrocínios do futebol está ligada a torneira dos recursos públicos para
essas empresas, que crescem numa velocidade acelerada e não às
potencialidades de markenting de Ronaldo.
Essa nova etapa de patrocínios no futebol brasileiro com destaque
para a Hypermarcas retoma uma mesma finalidade da era Parmalat: acelerar o
processo de fusão e aquisição na afirmação de um grupo monopolista visando
liquidar seus oponentes para impor um preço de monopólio. Sua estratégia de
aquisições num curto espaço de tempo se assemelha a estratégia da Parmalat
no início dos anos 90. Aliás, parte das empresas que pertenciam a Parmalat
agora fazem parte da Hypermarcas e patrocinam o rival. É bom lembrar que a
Parmalat faliu mundialmente.
A Perdigão S.A em maio de 2006, já tinha adquirido 51% das ações da
Batavia S.A. Em 2008 comprou os outros 49% que eram de posse da Parmalat, se
tornando a única dona da Batávia. Essa Companhia de capital aberto, é
controlada desde 1994 por um pool de fundos de Pensão ligados ao PT e a CUT.
Na retaguarda desse novo boom do Corinthias estão as relações de poder vinda
do governo Lula da Silva, as empreiteiras, os fundos de Pensão e
especialmente o dinheiro público vindo do BNDES. Essa é a mesma combinação
de fatores que permitiu o processo de privatização das estatais e a reforma
da previdência. O estádio que o mafioso russo prometeu na fase da MSI agora
parece que vai sair tendo como base o dinheiro público. Esse é o segredo do
atual boom do time do coração do ex – presidente. Parece mágica mas empresas
com dificuldades financeiras se tornaram os grande patrocinadores desse
time. O gordo só leva a fama de ser um grande vendedor de anúncios. O
palmeiras foi laboratório da primeira experiencia de expansão da parmalat a
partir do abundante crédito vindo das baixas taxa de juros da união
europeia. Somente com crédito abundante é possível essa avalanche de
aquisições num espaço de tempo tão curto feitas pela Parmalat e agora pela
Hypermarcas.

José Menezes Gomes (Professor do Departamento de economia e do Mestrado em
Desenvolvimento socioeconômico da UFMA e Doutor pela USP)

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Parmenas Alt
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